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Liderança para uma Cultura de Igualdade em Tempos de Perigo e de Paz

Liderança para uma Cultura de Igualdade em Tempos de Perigo e de Paz

Uma Declaração da Comunidade Internacional Bahá’í à 65a sessão da Comissão sobre o Status da Mulher

New York—24 February 2021

Diante do cenário de um mundo que está sofrendo profunda mudança, há um crescente reconhecimento do papel indispensável que as mulheres em posições de liderança desempenham. No início da pandemia do coronavírus, observou-se que nações em que mulheres contribuíram de forma mais proeminente na liderança da sociedade geraram um grau de estabilidade em uma diversidade de indicadores de curto prazo, incluindo saúde pública e segurança econômica. No âmbito de comunidade, as mulheres continuam a desempenhar um papel indispensável — e frequentemente lideram — no cuidado com os doentes, educação dos jovens, atendimento aos necessitados e sustentando a estrutura social e econômica de maneira geral. Nunca esteve tão claro o quanto a humanidade se beneficia quando adota e promove a liderança de mulheres em todos os níveis da sociedade, seja na família ou no povoado, na comunidade ou no governo local, na empresa ou na nação. Alcançar a plena medida dessa capacidade para enfrentar os desafios contemporâneos exigirá o movimento de pelo menos duas frontes: aumentar a presença das mulheres nos papéis de liderança e nos assuntos da sociedade, e aplicar mais ampla e consistentemente as qualidades que elas tendem a empregar no processo de resolução de problemas e de tomada de decisões.

Qualquer consideração quanto à participação de mulheres na vida pública inclui uma reavaliação dos modelos de liderança. Momentos de perigo intenso na vida da humanidade requerem líderes com mente bem treinada, capazes de se valer do poder da ciência, bem como de princípios morais e éticos, e que consultem diversos grupos representativos de pessoas experientes em áreas pertinentes. Essas lideranças harmonizariam diferentes vozes e promoveriam um senso de empreendimento comum. Resistindo à sedução de poder, elas seriam caracterizadas por integridade, credibilidade e firme adesão à ação baseada em princípios.

Naturalmente, esses atributos podem se manifestar em líderes, independentemente do sexo, e políticas feministas e de igualdade de gênero podem produzir resultados benéficos, não importa quem as promova. No entanto, está se tornando claro que o aumento da participação de mulheres na vida da sociedade fortalece essas qualidades como um aspecto da cultura de liderança — e não apenas como características pessoais de cada líder. Qualidades de liderança frequentemente associadas à masculinidade — assertividade, determinação e competitividade, por exemplo — têm se mostrado limitadas ou contraproducentes quando não temperadas com outros atributos tradicionalmente associados à feminilidade, tais como compaixão, humildade e uma tendência à colaboração e inclusão. Os líderes mais eficazes promovem um ambiente em que indivíduos e comunidades são capazes de transcender diferenças de mentalidade, encontram pontos de consenso mesmo em situações mais desconcertantes e desafiadoras, e desenvolvem essas qualidades paciente e deliberadamente, preservando sempre os padrões de justiça. As perspectivas e experiências específicas das mulheres — incluindo a tendência comum de priorizar o bem-estar de crianças e famílias, ou de dar maior relevância ao impacto humano das políticas — capacita-as a fazer contribuições decisivas para a construção de tal liderança ética.

Avanços em aspectos mais visíveis de liderança, tais como mulheres que detêm posições de alto escalão em governos, mundo acadêmico ou empresas, bem como em outros espaços de tomada de decisão, tais como família ou comunidade, devem ser acompanhados por desenvolvimento comensurável no âmbito de cultura. Transformação duradoura exigirá a dedicação da sociedade inteira à igualdade de gênero e um comprometimento com a construção de uma vida pública modelada por mulheres e homens em parceria dinâmica e equitativa, em todas as esferas da sociedade e em todas as facetas da vida. Por esta razão, o trabalho do avanço da igualdade de gênero deve avançar no contexto local tanto quanto no internacional. Organizar processos de tomada de decisão em torno da busca de entendimento coletivo, buscar uma diversidade de perspectivas em busca de novas percepções sobre questões complexas, tomar medidas que ajudem uma variedade de partes interessadas a assumirem um papel mais ativo na vida pública—promover abordagens e valores como esses em vizinhanças e povoados contribui para o ambiente através do qual barreiras formais e institucionais, tais como leis discriminatórias e acesso desigual à educação, possam ser eliminadas.

De igual importância, o processo de construir padrões de igualdade de gênero na própria vida comunitária provê oportunidades para as mulheres desenvolverem habilidades e experiência de liderança, participarem de corpos decisórios e assumirem um papel bem mais ativo e visível na vida pública. Trabalhar para formar um novo conceito de sistemas e estruturas à luz das qualidades necessárias associadas ao feminino, especialmente em âmbito local, proporcionará às mulheres e homens, igualmente, oportunidades para aprender a superar barreiras à participação de mulheres, tais como intimidação em espaços de maioria masculina ou modelos que regulam as contribuições das mulheres no contexto do lar — barreiras, em última análise, para boa governança e paz duradoura. O impacto sobre homens e meninos pode ser igualmente significativo. Prover oportunidades, desde os primeiros anos de vida, para que meninos vejam meninas como iguais e mulheres como líderes levará a uma cultura de colaboração e sustentará a aprendizagem necessária para expressões permanentes e crescentes de igualdade. E, além de esforços conscientes para superar tais obstáculos, maiores graus de integração devem vir da percepção de que impedir a participação de mulheres em todos os níveis da sociedade priva a humanidade do potencial máximo que advém da diversidade de perspectivas na tomada de decisão.

Estabelecer relações justas em todos os níveis da sociedade pode tomar uma variedade de formas, envolvendo numerosos atores, e a plena participação das mulheres em todos esses espaços sem dúvida se mostrará indispensável para a construção de padrões equitativos de vida. De sua parte, a comunidade mundial bahá’í está explorando o papel que a aplicação de princípios espirituais à vida da sociedade pode desempenhar na eliminação de preconceitos de sexo e gênero. Nesse sentido, é central o conceito de construção de capacidade — de aprimorar a habilidade de mulheres e homens, de meninas e meninos igualmente, de defenderem e aplicarem o princípio de igualdade de gênero, em todos os tipos de circunstâncias e situações, para o aperfeiçoamento de todos. Através de programas educacionais que visam eliminar barreiras de preconceitos, infundindo atitudes de unidade e companheirismo, as crianças são nutridas desde tenra idade a caminhar lado a lado com diversos atores no serviço às suas sociedades. Reuniões simples para vizinhos orarem e discutirem as implicações de ideais religiosos, muitas vezes realizadas nas casas dos participantes, também se tornaram um espaço para se desprender de restrições de gênero de longa data. A diretora de uma escola de ensino fundamental em um vilarejo na Índia, por exemplo, notou que reuniões devocionais, maneira como esses encontros são frequentemente chamados, são uma das poucas atividades nas quais a possibilidade das mulheres saírem de casa encontrou aceitação na comunidade e um sistema há muito consagrado, que exige que as mulheres fiquem reclusas e isoladas, está começando a ceder. “Este sistema [cultural] não é mais importante do que a educação das crianças. Ou deixar as mulheres saírem de casa. Ou consultar entre si”, ela diz. “O fato de sermos capazes de consultar umas com as outras, de nos comunicar com outras pessoas e resolver problemas em conjunto, tornou-se um aspecto importante de nossas vidas.”

No decorrer da história, quando espaços tradicionalmente confinados a homens foram abertos a mulheres, isto ocorreu frequentemente em contextos de guerra, revolução e colapso. É verdade que em tempos de crise, desde dificuldades locais até calamidades nacionais, mulheres têm demonstrado repetidamente sua capacidade e resiliência. No entanto, muito frequentemente as mulheres são relegadas de volta aos confins do lar pelas forças da sociedade quando há o aparente retorno de paz e tranquilidade. Esse é um padrão que deve ser superado. Não se pode encontrar qualquer justificativa racional, de qualquer espécie, para a privação dos diversos benefícios que as mulheres trazem para a tarefa de ordenar os assuntos da sociedade. Portanto, uma questão de importância central que se apresenta a esta Comissão e ao sistema internacional como um todo é o modo como as capacidades das mulheres podem ser incorporadas e integradas tanto em tempos de paz como de tumulto, nas rotinas do dia-a-dia, bem como em ocasiões excepcionais.

Talvez, nunca antes, os laços que unem os povos do mundo tenham estado tão claros. O reconhecimento dessa interconexão deve ser combinado com determinação em utilizar a capacidade da humanidade na sua totalidade e na sua copiosa diversidade. Nenhuma consideração séria dos próximos passos de desenvolvimento da humanidade pode ignorar a necessidade de expandir a plena e efetiva participação das mulheres na tomada de decisão e na vida pública. Somente na medida em que se der plena expressão a essas habilidades é que as comunidades e sociedades terão a gama de ferramentas necessárias para abordar os muitos desafios com os quais a humanidade se defronta.

SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS: RUMO A UM NOVO ‘NÓS’

SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS: RUMO A UM NOVO ‘NÓS’

Declaração da Comunidade Internacional Bahá’í para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

Rio de Janeiro, Brazil—20 June 2012

No momento em que as nações e a sociedade civil se reúnem na Conferência Rio+20 para dar o passo seguinte na formação de uma nova visão de desenvolvimento sustentável, o ímpeto gerado para iniciar a conferência já criou novos níveis de questionamento e colaboração. As preparações para o evento estimularam reflexões sobre paradigmas econômicos, modos de governança, indicadores de progresso, o papel da juventude, bem como sobre o próprio objetivo do desenvolvimento. As Nações Unidas abriram as portas para a participação da sociedade civil no processo da Conferência numa amplitude sem precedentes, mas muitas vozes ainda precisam ser ouvidas. Ainda assim, o que se observa hoje é um chamado que se ergue para que os governos aproveitem a oportunidade que se lhes apresenta para que demonstrem generosidade e determinação, que se abstenham do partidarismo e da autopropaganda e que articulem uma estrutura visionária e ambiciosa que permita o florescimento humano.

A estrutura econômica e institucional elaborada no Rio exigirá o reexame das relações que sustentam a sociedade: relações entre estados nacionais, dentro e entre comunidades, entre indivíduos e instituições sociais, entre os próprios indivíduos, e entre a humanidade e a natureza ao seu redor. O desenvolvimento sustentável assume uma relação entre a atual geração e a futura – uma relação definida não somente pela geografia, mas também pelo tempo. Uma exploração sincera dessas relações oferece a lente através da qual poderão ser avaliados os méritos e falhas de quaisquer arranjos institucionais propostos e, mais importante ainda, poderão nos ajudar a articular nossas aspirações para o futuro. Oferecemos as seguintes ideias como contribuição à conferência acerca desses temas.

Guardiania

Uma dimensão crítica do desenho e implementação das novas estruturas econômicas e institucionais é o senso de uma guardiania mundial – a ideia de que cada um de nós ingressa no mundo sob a guarda do todo e que, por sua vez, possui como legado um certo grau de responsabilidade para com o bem-estar da coletividade[1]. O princípio da guardiania questiona a eficácia das expressões atuais de soberania. Ele desafia a base ética das lealdades que não vão além do estado nacional. Embora o multilateralismo tenha fortalecido e expandido a cooperação entre estados nacionais, ele não foi capaz de eliminar os conflitos de poder que prevalecem nas relações entre esses estados. A mera colaboração entre atores auto-interessados num empreendimento multilateral não assegura resultados favoráveis para a comunidade de nações como um todo. Enquanto um grupo de nações entender seus interesses numa relação de oposição aos interesses das demais, o progresso alcançado pela humanidade será limitado e de curta duração.

O conceito de guardiania é igualmente aplicável a muitas outras áreas de interesse para a humanidade. Os direitos humanos, por exemplo, alcançam sua mais elevada expressão quando entendidos no contexto da guardiania: eles passam a prover uma estrutura de relações humanas por meio da qual todas as pessoas têm a oportunidade de realizar seu pleno potencial, e todos têm a preocupação de garantir essa mesma oportunidade para os demais. A mudança para modos sustentáveis de produção e consumo é mais uma expressão desse princípio: em poucas palavras, é preciso reconhecer que consumir mais do que a porção justa significa exaurir os recursos necessários ao sustento de outros.

O princípio da guardiania implica na necessidade de uma perspectiva intergeracional na qual o bem-estar das futuras gerações é levado em conta em todos os níveis decisórios. Propostas como a criação de Ouvidorias ou Altos Comissariados para Futuras Gerações são exemplos de atitudes que podem traduzir esse princípio em ação. Tais instituições seriam incumbidas de considerar tanto os interesses de longo prazo da juventude e das gerações futuras quanto os interesses econômicos e políticos imperativos e de curto prazo.

Eliminação dos Extremos de Riqueza e Pobreza

Hoje, mais de 80% da população mundial vive em países onde as diferenças de renda estão se ampliando. Embora medidas de erradicação da pobreza tenham melhorado os padrões de vida em algumas partes do mundo, a desigualdade continua amplamente difundida. Numerosos e diversificados déficits no bem-estar humano são endêmicos tanto em países pobres como ricos. Cerca de 800 milhões de adultos não sabem ler ou escrever, dois bilhões e meio de pessoas não têm acesso a saneamento básico, aproximadamente a metade das crianças do mundo vive na pobreza e quase um bilhão de pessoas não possui comida suficiente. No outro extremo, alguns milhares de indivíduos controlam cerca de seis por cento do Produto Bruto Mundial. Essas distorções indicam as falhas estruturais do sistema econômico e de suas instituições – falhas estas que precisam ser corrigidas.

Faz-se necessária uma análise cuidadosa da maneira como a concentração extrema de riqueza distorce as relações no âmbito nacional e entre nações. Tais extremos minam a vitalidade econômica, mutilam a participação nos processos decisórios e políticos, obstruem o fluxo de conhecimento e informação, isolam pessoas e comunidades, além de distorcer a percepção da capacidade humana. A geração e despendimento de riqueza por parte das nações deve possibilitar a prosperidade de todos os povos do mundo. As estruturas e sistemas que permitem que uns poucos possuam riqueza excessiva enquanto as massas permanecem empobrecidas precisam ser substituídos por sistemas que fomentem a geração de riqueza de modo a promover a justiça.

É preciso estimular uma reorientação fundamental de princípios e de arranjos institucionais relacionados à produção e ao consumo a fim de criar padrões sustentáveis de atividade econômica que sejam difundidas do âmbito local para o global, abrangendo áreas urbanas e rurais. Atenção especial deve ser conferida a iniciativas que incentivem a criação e distribuição de riqueza em regiões rurais, bem como a políticas que impeçam a marginalização de iniciativas de base pelas forças da globalização econômica. Algumas abordagens promissoras incluem o fortalecimento da capacidade local para a inovação tecnológica e a promoção do respeito ao conhecimento tradicional de comunidades ou culturas.

O progresso e o bem-estar de toda a humanidade exigem o desenvolvimento e implementação de modelos econômicos que reflitam o papel fundamental exercido pelos relacionamentos na vida humana. Os recursos hoje destinados a atividades e programas prejudiciais ao ambiente social e natural devem ser realocados para ações em prol da criação de sistemas que promovam a cooperação e reciprocidade.

Ainda há muito o que aprender acerca dos extremos de pobreza e riqueza. É preciso ouvir as vozes e as experiências vividas pelos indivíduos – inclusive os mais pobres. Muito além das variáveis econômicas, por exemplo, é preciso aprofundar o conhecimento acerca dos recursos sociais e espirituais nos quais as massas se apoiam para conduzir suas vidas. Nossa compreensão acerca da riqueza extrema também é incompleta. Devido à natureza cada vez mais globalizada da riqueza e seus extremos, grande parte dessa riqueza escapa ao controle e administração no nível nacional e não se reflete nas estatísticas governamentais. Quais as estruturas que permitem que esses extremos de riqueza possam seguir existindo? De que maneira os sistemas econômicos e políticos contribuem para a perpetuação desse tipo de distorção? Que tipos de identidades e qualidades são promovidas por sua existência constante? É preciso aprofundar e difundir o entendimento acerca das implicações resultantes das movimentações financeiras globais e da maneira como essa riqueza é utilizada a fim de que as ações dos governos e da comunidade internacional possam avançar de modo informado e construtivo.

Consulta

As questões ligadas à promoção de uma visão sustentável de desenvolvimento são altamente complexas. Desta maneira, parece muito improvável que tais questões possam ser resolvidas pela imposição de teorias simplistas e fórmulas reducionistas. O que precisamos é de um processo efetivo para explorar as questões e tomar decisões que promovam uma participação genuína, facilitem a ação coletiva e respondam à complexidade inerente aos esforços para criar sistemas e estruturas sustentáveis. Para tanto, oferecemos um modelo de ‘consulta’ – uma abordagem para a tomada de decisão coletiva baseada em princípios, praticada pela comunidade bahá’í em todo o mundo.

Obviamente, as considerações a seguir não se baseiam na crença de que uma mera mudança no modo de tomada de decisão coletiva possa, por si própria, erradicar a pobreza e promover a sustentabilidade. Entretanto, torna-se cada vez mais claro que as atuais estruturas de tomada de decisão - que excluem as massas dos povos do mundo, perpetuam o conflito, enfatizam demasiadamente os interesses de um número reduzido de indivíduos poderosos e, muitas vezes, são subservientes ao desejo de ascensão política - são inadequadas à tarefa de construir um mundo melhor no qual todos sejam capazes de prosperar.

Participação

A abordagem bahá’í de desenvolvimento baseia-se na convicção de que todas as pessoas têm não apenas o direito de se beneficiar de uma sociedade material e espiritualmente próspera, mas também a obrigação de participar de sua construção. Para que uma consulta possa ser efetiva, ela deve promover a participação dos indivíduos na definição do caminho que suas comunidades tomarão – seja por meio da análise de problemas específicos, da busca por um grau maior de compreensão acerca de determinada questão, da exploração de possíveis rumos de ação ou da tomada de decisões coletivas. É essencial que existam mecanismos que facilitem a genuína participação nos processos consultivos daqueles que são tradicionalmente excluídos, inclusive os mais pobres.

Uma Estrutura Unificadora

A fim de se garantir a sustentabilidade do progresso no cenário internacional, é preciso que esse progresso ocorra no âmbito de uma estrutura que favoreça um grau progressivo de unidade de visão e ação entre os participantes. Cada passo adiante – longe de representar um triunfo momentâneo de uma única pessoa ou facção num ambiente de competição – torna-se parte de um processo coletivo de aprendizagem por meio do qual as instituições internacionais, os estados e a sociedade civil possam avançar juntos em harmonia.

Numa estrutura como essa, as ideias e sugestões não pertencem a uma única pessoa ou entidade. Desta maneira, seu sucesso como sua falha ao final do processo não são atribuídos meramente à reputação, posição ou influência do indivíduo ou instituição que as propôs. Ao contrário, pertencem ao grupo que as adota, revisa, ou descarta, conforme a necessidade da comunidade.

Uma discussão aberta e franca frequentemente produz diferentes pontos de vista, especialmente devido à diversidade cultural, histórica e das experiências representadas no cenário internacional. Quando abordada de maneira construtiva, essa diversidade de perspectivas pode revelar premissas inéditas e favorecer o surgimento de novos conceitos e ideias. Nesse contexto, os participantes têm a possibilidade de explorar os diversos pontos de vista de modo a promover níveis mais elevados de harmonia e cultivar a unidade de pensamento e ação dentro do grupo.

Conforme a descrição apresentada acima, a consulta consiste em uma abordagem deliberativa que unifica em vez de dividir. Seu objetivo abrange não apenas a avaliação da realidade de uma situação específica, mas também o fortalecimento dos laços que unem os participantes. No âmbito internacional, tal abordagem pode auxiliar os estados a trabalhar em conjunto para o bem comum de maneira mais efetiva, assim como a identificar e solucionar as debilidades do sistema multilateral que restringem o progresso.

*

Vemos a Rio +20 como sendo o próximo passo no processo de aprendizado dos povos do mundo em busca de soluções coletivas. Os laços de afeição, confiança e cuidado mútuo que unem os indivíduos estão em contínua expansão, abrangendo uma porção cada vez maior da sociedade humana. O novo ‘nós’ não é uma abstração. É a conscientização de que devemos persistentemente desafiar a nós próprios, às nossas comunidades e instituições sociais para reavaliar e refinar os padrões estabelecidos de pensamento e interação a fim de que possamos definir de maneira mais adequada o curso do desenvolvimento humano em todo o mundo.



[1]           Nos últimos 40 anos, a comunidade internacional articulou vários princípios éticos necessários para atingir objetivos e guiar a implementação de ações na área do desenvolvimento sustentável. Entre eles, incluem-se os princípios contidos na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) e aqueles constantes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (1992).

Considerações iniciais sobre a eliminação dos extremos de pobreza e riqueza

Considerações iniciais sobre a eliminação dos extremos de pobreza e riqueza

Follow-up à Conferência de Cúpula de Desenvolvimento Social e à vigésima quarta sessão especial da Assembleia Geral: tema prioritário: erradicação da pobreza Declaração apresentada pela Comunidade Internacional Bahá’í, uma organização não governamental com status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social

New York, New York—1 February 2012

Item 3 (a) da agenda provisória*

O Secretário Geral recebeu a declaração abaixo, a qual está sendo circulada de acordo com os parágrafos 36 e 37 da resolução 1996/31 do Conselho Econômico e Social:

Declaração

Os programas de erradicação da pobreza geralmente têm focado na criação de riqueza material. Embora essas mediadas tenham melhorado o padrão de vida em algumas partes do mundo, a desigualdade ainda permanece amplamente difundida. No seu Relatório de 2005 sobre a Situação Social Mundial, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais do Secretariado das Nações Unidas destacou o crescente abismo entre economias formais e informais, a dilatação da lacuna entre trabalhadores qualificados e não qualificados e a intensificação da disparidade na saúde e educação, bem como em oportunidades de participação social, econômica e política. Um fato bem documentado é que o foco no crescimento e geração de renda não se traduziu necessariamente em melhora social significativa, e a incrementação da desigualdade tornou a comunidade global cada vez mais instável e insegura.

A Comunidade Internacional Bahá’í deseja contribuir para a discussão da Comissão sobre a erradicação da pobreza considerando os fenômenos relacionados aos extremos de pobreza e riqueza. Enquanto o objetivo da erradicação da pobreza é amplamente endossado, e ideia de eliminação dos extremos de riqueza é, para muitos, desafiadora.

Alguns temem que ela possa ser usada para minar a economia de mercado, abafar o espírito empreendedor ou impor medidas de nivelamento de renda. Não é a isso que nos referimos. Na verdade, a riqueza material é de importância crucial para a realização de metas individuais e coletivas; exatamente por isso, uma economia forte é um componente-chave para uma ordem social vigorosa. Sugerimos que o reconhecimento da questão dos extremos de pobreza e riqueza se ocupa essencialmente da natureza dos relacionamentos que interligam indivíduos, comunidades e nações. Hoje, a maioria dos povos do mundo vive em sociedades que se caracterizam por relacionamentos de dominação—seja de uma nação sobre outra, de uma raça por outra, de uma classe social por outra, de um grupo religioso ou étnico por outro, ou de um sexo pelo outro. Nesse contexto, um discurso sobre eliminação dos extremos de pobreza e riqueza presume que as sociedades não podem florescer num ambiente que estimula o acesso injusto aos recursos, ao conhecimento e a uma participação significativa na vida da sociedade.

Nesta contribuição, fazemos uma breve reflexão sobre o modo como os seguintes aspectos da sociedade contribuem para esses extremos: uma visão materialista do mundo, pressupostos acerca da natureza humana, os meios de geração de riqueza e acesso ao conhecimento. Propomos um conjunto alternativo de pressuposições e ponderamos como elas podem promover um ambiente econômico mais equitativo.

O modelo predominante de desenvolvimento depende de uma sociedade de vigorosos consumistas de bens materiais. Elevar incessantemente os níveis de consumo é considerado como indicador de progresso e prosperidade. Essa visão materialista do mundo, que justifica grande parte do pensamento econômico moderno, reduz os conceitos de valores, de propósito humano e de interações humanas à busca egoísta pela riqueza material. O resultado inevitável – um cultivo irrestrito de necessidades e desejos – conduziu a um sistema dependente do consumo excessivo por uma minoria, ao mesmo tempo em que reforça a exclusão e a pobreza das grandes multidões.

No entanto, a maioria das pessoas admitiria que essa amplamente difundida visão materialista não abrange a totalidade da experiência humana. Isso inclui as expressões de amor e auto-sacrifício, a busca por conhecimento e justiça, a atração pela beleza e pela verdade, e a busca por sentido e propósito, para citar apenas algumas. De fato, o progresso e a vitalidade da ordem social exigem um relacionamento coerente entre as dimensões material e espiritual da vida humana. Dentro de tal ordem, a organização econômica apoia o desenvolvimento de relações humanas justas e pacíficas e pressupõe que todo indivíduo tem uma contribuição a dar para a melhora da sociedade.

Consideremos que, de acordo com o Instituto de Estatística da Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas (UNESCO), cerca de 800 milhões de adultos não sabem ler ou escrever; que dois bilhões e meio de pessoas carecem de saneamento básico; e que cerca da metade das crianças do mundo vivem na pobreza. No outro extremo, um punhado de indivíduos, aproximadamente 500 bilionários, controlam 7 por cento do produto interno bruto (PIB) do mundo. Temos um sistema econômico que gera extrema desigualdade. Muitos acreditam que essa desigualdade, embora indesejável, seja necessária para a geração de riqueza. Se o processo de acumulação de riqueza se caracteriza pela opressão e dominação de outros, como poderíamos esperar que fossem mobilizados os recursos materiais, intelectuais e morais necessários para erradicar a pobreza?

Muitos reconhecem que a legitimidade da riqueza depende de como ela é adquirida e como é despendida. A riqueza é extremamente meritória desde que adquirida por meio de esforço honesto e trabalho dedicado; que as medidas tomadas para gerar tal riqueza sirvam para enriquecer a sociedade como um todo; e que a riqueza assim obtida seja despendida para promover o conhecimento, a educação, a inovação e, de um modo geral, faça avançar a civilização humana. O princípio de justiça pode ser expressado em diferentes níveis relacionados ao processo de aquisição de riqueza. Empregadores e empregados, por exemplo, dependem de leis e convenções que regulam seu trabalho. Espera-se que cada um cumpra suas responsabilidades com honestidade e integridade. Num outro nível, podemos considerar se as medidas de geração de riqueza estão servindo para enriquecer a sociedade e promover seu bem-estar. As diversas abordagens para obtenção de riqueza devem entrar no discurso sobre a erradicação da pobreza de modo que as medidas que envolvem a exploração de outros, a monopolização e a manipulação de mercados e a produção de bens que promovem a violência e rompem a estrutura social possam ser completamente analisadas e avaliadas pela população em geral. Podemos, por exemplo, perguntar: Será que a relação entre os salários e o custo de vida é justa e equitativa? Que tipos de medidas de geração de riqueza serviriam para enriquecer a generalidade das pessoas em vez de uns poucos indivíduos selecionados?

Juntamente com esse discurso, a erradicação dos extremos de pobreza e riqueza exige nada menos que uma revolução do conhecimento. Tal revolução precisará redefinir o papel de cada indivíduo, comunidade e nação na geração e aplicação do conhecimento. Precisará reconhecer a ciência e a religião como dois sistemas complementares de conhecimento que, no decorrer da história, tornaram possível a investigação da realidade e o avanço da civilização. À medida que esses processos de desdobrarem, ajudarão a transformar a qualidade e a legitimidade da educação, da ciência e da tecnologia, bem como os padrões de consumo e produção. As massas do mundo não podem continuar a ser consideradas apenas como consumidores e usuários finais da tecnologia originada em países industrializados. Tal orientação sufoca os níveis de empreendimento e criatividade humana necessários para tratar dos desafios prementes da atualidade. O desenvolvimento da capacidade de identificar necessidades tecnológicas, de inovar e adaptar tecnologias existentes é vital. Se desenvolvida com sucesso, tal capacidade servirá para romper o fluxo desequilibrado de conhecimento do Norte para o Sul, da cidade para o campo e do homem para a mulher. Isso ajudaria a expandir o conceito de tecnologia “moderna” para um que seja caracterizado por necessidades localmente definidas e por prioridades que levem em consideração o bem-estar material e espiritual da comunidade.

Conforme expressado na introdução desta declaração, a erradicação da pobreza não pode ser concebida apenas em termos do aumento da riqueza material dos pobres. Trata-se de um empreendimento mais amplo, fundamentado em relacionamentos que definem as interações entre indivíduos, comunidades e nações. Convidamos os que estão trabalhando ativamente para estabelecer uma ordem social e econômica mais justa para se engajarem conosco no diálogo acerca dessas questões subjacentes de modo a aprendermos uns com os outros e, coletivamente, promovermos esforços rumo a esses objetivos. Concluímos com algumas questões para sua consideração:

Qual o propósito de uma economia? Em que premissas acerca da natureza humana se baseia o nosso entendimento do propósito da economia? Como entendemos o conceito de riqueza?

De que maneiras os extremos de pobreza e riqueza bloqueiam o desenvolvimento, o empoderamento e os relacionamentos sadios? Que tipos de identidades são formados com a existência desses dois extremos (por exemplo, dependente, auto-complacente, consumidor, produtor, e assim por diante)? Como essas identidades perpetuam a desigualdade?

Qual o papel do conhecimento — obtido tanto da ciência como da religião — na transformação das nossas estruturas e processos econômicos?

Como podemos conceitualizar a natureza e o propósito do trabalho, da riqueza e do empoderamento econômico para além das noções de maximização da utilidade por parte de indivíduos auto-interessados?

Quais são os papéis do indivíduo, da comunidade, do setor corporativo e dos líderes eleitos em face da eliminação dos extremos de pobreza e riqueza? Como isso ocorre na prática?

Quais os pontos de inserção para se transformar a economia? O que motiva indivíduos, comunidades, corporações e governos a reformular estruturas e processos econômicos? De onde vem seu propósito e comprometimento?

Que concepções ou crenças amplamente estabelecidas bloqueiam nossa habilidade de transformar os sistemas econômicos que temos hoje? Como elas podem ser superadas?

 

A Prosperidade da Humanidade

A Prosperidade da Humanidade

Declaração preparada pelo Escritório de Informação Pública da Comunidade Internacional Baha'i, Haifa, inicialmente distribuída; na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, Copenhague, Dinamarca.

Copenhagen, Denmark—3 March 1995

A uma extensão inimaginável há uma década, o ideal da paz mundial está tomando forma e substância. Obstáculos no caminho da humanidade, que há muito pareciam intransponíveis, desmoronaram; conflitos aparentemente irreconciliáveis começam a ceder lugar a processos de consulta e resolução; nasce uma disposição para fazer frente à agressão militar através da ação internacional unificada. O efeito disso tem sido fazer despertar, nas massas e em muitos líderes mundiais, um grau de esperança quanto ao futuro de nosso planeta que estava praticamente extinto.

Por todo o mundo, imensas energias intelectuais e espirituais estão buscando expressão; energias cuja concentração está em proporção direta às frustrações de décadas recentes. Por toda parte, multiplicam-se os sinais de que os povos da Terra anseiam pelo fim dos conflitos, do sofrimento e da ruína aos quais nenhum país está hoje imune. Esses impulsos emergentes por mudança devem ser aproveitados e canalizados a fim de serem superadas as barreiras remanescentes que bloqueiam a realização do antigo sonho de paz global. O esforço de vontade necessário para esta tarefa não pode ser evocado meramente por apelos à ação contra os incontáveis males que afligem a sociedade. Ele deve ser galvanizado por uma visão da prosperidade humana no mais pleno sentido da palavra -- um despertar para as possibilidades de bem-estar espiritual e material, hoje ao nosso alcance. Seus beneficiários devem ser todos os habitantes do planeta, sem nenhuma distinção e sem que se imponham quaisquer condições dissociadas dos objetivos fundamentais de tal reorganização dos assuntos humanos.

A história, até os dias de hoje, tem registrado principalmente a experiência de tribos, culturas, classes e nações. Com a unificação física do planeta neste século e o reconhecimento da interdependência de todos os que nele vivem, a história da humanidade como um só povo está por começar. O longo e vagaroso processo civilizatório do caráter humano desenvolveu-se de modo esporádico, desigual e reconhecidamente injusto quanto às vantagens materiais que proporcionava. Contudo, dotados da riqueza de toda a diversidade genética e cultural que evoluiu ao longo das eras passadas, os habitantes da Terra são hoje desafiados a recorrer à sua herança coletiva para assumir, de maneira consciente e sistemática, plena responsabilidade pelo traçado de seu futuro.

Não seria realístico imaginar que a visão do próximo estágio do avanço da civilização possa ser formulada sem um reexame minucioso das atitudes e premissas subjacentes às atuais abordagens do desenvolvimento sócio-econômico. Ao nível mais óbvio, essa reflexão terá de levar em conta questões práticas relacionadas à política, à utilização de recursos, às normas de planejamento, às metodologias de implementação e à organização. Mas, à medida que essa reflexão se aprofundar, rapidamente virão à tona questões fundamentais relacionadas com os objetivos de longo prazo que se têm em vista, as estruturas sociais exigidas, as implicações para o desenvolvimento de princípios de justiça social, bem como com a natureza e o papel do conhecimento na produção de mudanças duradouras. Na realidade, este reexame será orientado para a busca de um amplo entendimento consensual da própria natureza humana.

Dois caminhos de discussão abrem-se diretamente a todas essas questões, sejam conceituais ou práticas, e é ao longo desses dois caminhos que desejamos analisar, nas páginas seguintes, o tema de uma estratégia de desenvolvimento global. O primeiro caminho é a análise das crenças predominantes sobre a natureza e o propósito do processo de desenvolvimento; o segundo, os papéis nele atribuídos aos vários protagonistas.

As premissas que direcionam a maior parte do atual planejamento desenvolvimentista são essencialmente materialistas. Ou seja, o propósito do desenvolvimento é definido em termos do cultivo bem-sucedido, em todas as sociedades, daqueles meios para a conquista de prosperidade material que, através de tentativa e erro, veio a caracterizar certas regiões do globo. Modificações no discurso desenvolvimentista sem dúvida ocorrem, conciliando diferenças culturais e políticas e respondendo aos alarmantes perigos apresentados pela degradação do meio ambiente. Contudo, em sua essência, as premissas materialistas subjacentes permanecem inalteradas.

À medida que o século XX se aproxima de seu final, não é mais possível mantermos a crença de que essa abordagem do desenvolvimento sócio-econômico, nascida de uma concepção materialista da vida, seja capaz de atender às necessidades da espécie humana. As previsões otimistas sobre as mudanças que esse tipo de desenvolvimento iria gerar desvaneceram-se no abismo cada vez maior que separa os padrões de vida de uma minoria, pequena e relativamente decrescente, da pobreza experimentada pela vasta maioria da população do nosso planeta.

Esta crise econômica sem precedentes, juntamente com o colapso social que ela ajudou a gerar, reflete um profundo equívoco conceitual sobre a própria natureza humana. Pois os níveis de resposta evocados nos seres humanos pelos estímulos da ordem predominante não são apenas inadequados, mas também quase irrelevantes diante dos acontecimentos mundiais. Está demonstrado que, a menos que o desenvolvimento social encontre um propósito além da simples melhoria das condições materiais, ele fracassará em alcançar até mesmo essas metas. Tal propósito deve ser buscado nas dimensões espirituais da vida e na motivação que transcende um panorama econômico em constante mutação e a divisão artificial das sociedades humanas em desenvolvidas e subdesenvolvidas.

À medida que o propósito do desenvolvimento vai sendo redefinido, toma-se necessário lançarmos também um novo olhar às premissas sobre os papéis adequados a serem desempenhados pelos protagonistas do processo. O papel crucial do governo, em qualquer nível, não requer discussão. Contudo, as gerações futuras terão imensa dificuldade para compreender como foi possível que, numa época que rendia tributos a uma filosofia igualitária e a princípios democráticos, o planejamento desenvolvimentista visse as massas humanas como simples repositórios dos benefícios da ajuda e do treinamento. Embora reconhecendo a participação como um princípio, deixa-se para a grande maioria da população do mundo uma liberdade decisória que, no melhor dos casos, só envolve assuntos secundários e se limita a uma gama de escolhas formuladas por órgãos inacessíveis a esses povos e determinadas por objetivos freqüentemente irreconciliáveis com a sua percepção da realidade.

Essa abordagem é até mesmo endossada, implícita quando não explicitamente, pelas religiões estabelecidas. Onerado por tradições paternalistas, o pensamento religioso predominante parece ser incapaz de traduzir sua fé nas dimensões espirituais da natureza humana numa confiança na capacidade coletiva da humanidade para transcender as condições materiais.

Essa atitude perde de vista o significado daquele que talvez seja o mais importante fenômeno social dos nossos tempos. Se é verdade que os governos do mundo estão empenhados através do sistema da O.N.U. em construir uma nova ordem global, então é igualmente verdade que os povos do mundo estão galvanizados por essa mesma visão. A resposta dos povos do mundo assumiu a forma de um súbito desabrochar de incontáveis movimentos e organizações de mudança social aos níveis local, regional e internacional. Direitos humanos, progresso da mulher, requisitos sociais para um desenvolvimento econômico auto-sustentado, superação dos preconceitos, educação moral das crianças, alfabetização, cuidados básicos de saúde e uma infinidade de outras considerações vitais exigem a defesa urgente de organizações apoiadas por um número crescente de pessoas em todas as partes do globo.

Essa resposta dos povos do mundo às clamorosas necessidades da nossa época fazem eco ao apelo lançado por Bahá'u'lláh há mais de cem anos: "Considerai ansiosamente as necessidades da época em que viveis e concentrai vossas deliberações sobre suas exigências e requisitos." A transformação do modo como muitas pessoas comuns estão começando a ver por si mesmas -- mudança esta que, na perspectiva da história da civilização, é dramaticamente abrupta -- levanta algumas questões fundamentais sobre o papel atribuído à humanidade em geral no planejamento do futuro do nosso planeta.

I

O alicerce de uma estrategia capaz de levar a população do inundo a assumir responsabilidade por seu destino coletivo deve ser a consciência da unidade da humanidade. Enganosamente simples no discurso popular, o conceito de que a humanidade constitui um único povo apresenta desafios fundamentais para o modo como a maioria das instituições da sociedade contemporânea cumprem suas funções. Quer sob a forma da estrutura antagonística dos governos civis, ou do princípio defensivo que rege grande parte do Direito Civil, ou da glorificação da luta de classes e entre outros grupos sociais, ou do espírito competitivo que domina uma parte tão grande da vida moderna, o conflito é aceito como a mola-mestre da interação humana. Ele representa, além disso, uma outra expressão, na organização social, da interpretação materialista da vida que se consolidou progressivamente no decorrer dos dois últimos séculos.

Em carta dirigida à rainha Vitória há mais de um século, e empregando uma analogia que aponta para o único modelo que contém uma promessa convincente para a organização de uma sociedade planetária, Bahá'u'lláh comparou o mundo ao corpo humano. Na verdade, no mundo dos fenômenos não existe outro modelo aceitável ao qual possamos olhar. A sociedade humana não é composta de uma massa de simples células diferenciadas e sim de associações de indivíduos, cada um dos quais dotado de inteligência e vontade; no entanto, os modos de funcionamento que caracterizam a natureza biológica do homem ilustram os princípios fundamentais da vida. O principal deles é o da unidade na diversidade. Paradoxalmente, é precisamente a totalidade e complexidade da ordem que constitui o corpo humano -- e a perfeita integração das células do corpo a essa ordem -- que permite a plena realização das capacidades distintivas inerentes a cada um desses elementos componentes. Nenhuma célula vive separada do corpo, seja contribuindo para o seu funcionamento, seja derivando sua parte do bem-estar do todo. O bem-estar físico assim alcançado encontra seu propósito quando torna possível a expressão da consciência humana; ou seja, o propósito do desenvolvimento biológico transcende a mera existência do corpo e de suas partes.

O que é verdade para a vida do indivíduo encontra paralelos na sociedade humana. A espécie humana é um todo orgânico, o coroamento do processo evolucionário. O fato de a consciência humana necessariamente funcionar através de uma infinita diversidade de idéias e motivações individuais não nega, de modo algum, sua unidade essencial. Por certo, é precisamente essa diversidade inerente que faz a distinção entre a unidade e a homogeneidade ou uniformidade. O que os povos do mundo estão hoje experimentando, afirmou Bahá'u'lláh, é a sua entrada coletiva na maioridade, e é através dessa emergente maturidade da raça humana que o princípio da unidade na diversidade irá encontrar sua plena expressão. A partir de seus primeiros passos no sentido da consolidação da vida familiar, o processo de organização social foi passando sucessivamente das estruturas simples do clã e da tribo, para múltiplas formas de sociedade urbana, chegando afinal à emergência do Estado Nacional -- cada um desses estágios revelando uma riqueza de novas oportunidades para o exercício das aptidões humanas.

Está bem claro que o avanço da espécie não ocorreu às custas da individualidade humana. À medida que aumentava o nível de organização social, expandia-se, na mesma proporção, o campo de ação para a expressão das capacidades latentes em cada ser humano. Uma vez que as relações entre o indivíduo e a sociedade são recíprocas, a transformação que hoje se faz necessária deve ocorrer simultaneamente no interior da consciência humana e na estrutura das instituições sociais. É nas oportunidades oferecidas por essas duas facetas do processo de mudança que uma estratégia de desenvolvimento global irá encontrar seu propósito. Neste estágio crucial da história, tal propósito deve ser o de estabelecer alicerces duradouros sobre os quais uma civilização planetária possa gradualmente tomar forma.

Lançar os fundamentos básicos para uma civilização global exige a criação de leis e instituições que sejam universais tanto em seu caráter quanto em sua autoridade. Esse esforço só poderá começar depois que o conceito da unidade da humanidade tiver sido sinceramente apreendido por aqueles em cujas mãos repousa a responsabilidade pela tomada de decisões, e quando os princípios correlatos tiverem se propagado pelos sistemas educacionais e meios de comunicação de massa. Uma vez transposto esse limiar, um processo terá sido colocado em marcha através do qual os povos do mundo serão atraídos a tarefa de formularem objetivos comuns e se comprometerem a alcançá-los. Por outro lado, somente uma reorientação tão fundamental poderá protegê-los dos antigos demônios da luta étnica e religiosa. Somente através do despertar da consciência de que constituem um único povo é que os habitantes deste planeta se tornarão capazes de se afastar dos padrões de conflito que no passado dominaram a organização social e começar a aprender os caminhos da colaboração e conciliação. "O bem-estar da humanidade", escreve Bahá'u'lláh, "e sua paz e segurança são inatingíveis a menos que e até que sua unidade seja firmemente estabelecida".

II

A justice é o único poder que pode traduzir a consciência emergente da unidade da raça humana em uma vontade coletiva através da qual as estruturas necessárias à vida comunitária global poderão ser erigidas com confiança. Uma época que vê os povos do mundo tendo acesso crescente a todos os tipos de informação e a uma diversidade de idéias irá descobrir que a justiça se afirma como o princípio governante: da organização social bem-sucedida. Com uma freqüência cada vez maior, as propostas que visam ao desenvolvimento do planeta terão de submeter-se à luz imparcial dos padrões exigidos pela justiça.

Ao nível do indivíduo, a justiça é aquela faculdade da alma humana que toma cada pessoa capaz de distinguir entre a verdade e a falsidade. Aos olhos de Deus, assegura Bahá'u'lláh, a justiça é a mais amada de todas as coisas, pois permite que cada indivíduo veja com seus próprios olhos e não através dos olhos de outros, conheça através de seu próprio conhecimento e não por intermédio do conhecimento dos seus semelhantes ou do grupo. A justiça pede imparcialidade de julgamento e eqüidade no tratamento dispensado aos outros, sendo portanto uma companheira constante, ou mesmo uma exigência, na vida cotidiana.

A nível do grupo, o respeito à justiça é a bússola indispensável para a tomada coletiva de decisões, porque ela é o único meio pelo qual pode-se alcançar uma unidade de pensamento e ação. Longe de encorajar o espírito punitivo que com tanta freqüência mascarou-se sob seu nome em épocas passadas, a justiça é a expressão prática da percepção de que, na conquista do progresso humano, os interesses do indivíduo e os da sociedade estão inseparavelmente ligados. Na medida em que a justiça se torna uma consideração orientadora das interações humanas, encoraja-se um clima de consulta que permite o exame desapaixonado das opções e a escolha adequada dos cursos de ação. Em tal atmosfera é bem menos provável que as eternas tendências à manipulação e ao sectarismo possam defletir o processo de tomada de decisões.

As implicações para o desenvolvimento sócio-econômico são profundas. Quanto à tarefa de definir o progresso, a consideração pela justiça protege-a das tentações de sacrificar o bem-estar da humanidade em geral -- e até mesmo do próprio planeta -- às vantagens que os avanços tecnológicos proporcionariam a minorias privilegiadas. Nos projetos e planejamentos, o respeito à justiça assegura que recursos limitados não serão desviados para concretizar projetos dissociados das prioridades sócio-econômicas essenciais de uma comunidade. Acima de tudo, somente os programas de desenvolvimento percebidos como capazes de atender as necessidades dos povos e dotados de um objetivo justo e eqüitativo podem esperar obter o compromisso das massas humanas de quem depende sua implementação. As qualidades humanas relevantes, tais como a honestidade, a disposição para o trabalho e o espírito de cooperação, são bem aproveitadas na realização das árduas metas coletivas quando todos os membros da sociedade -- de fato, todos os grupos componentes da sociedade -- podem confiar que estão protegidos por critérios claros e têm assegurados benefícios que se aplicam igualmente a todos.

Na raiz da discussão de uma estratégia de desenvolvimento sócio-econômico, portanto, está a questão dos direitos humanos. O delineamento dessa estratégia exige que a promoção dos direitos humanos seja leberada das amarras das falsas dicotomias que por tanto tempo a mantiveram como refém. A preocupação de que cada ser humano deve desfrutar uma liberdade de pensamento e ação conducente a seu crescimento pessoal não justifica a devoção ao culto do individualismo que tão profundamente corrompe muitas áreas da vida contemporânea. E tampouco a preocupação em assegurar o bem-estar da sociedade como um todo requer a deificação do Estado como a suposta fonte do bem-estar da humanidade. Longe disso: a história do nosso século mostra com toda clareza que essas ideologias e os programas sectários que delas se originaram têm sido, eles próprios, os principais inimigos dos interesses aos quais pretendem servir. Somente numa estrutura consultiva, possibilitada pela consciência da unidade orgânica da raça humana, podem todos os aspectos da preocupação pelos direitos humanos encontrar sua expressão legítima e criativa.

Hoje em dia, o órgão ao qual delegou-se a incumbência de criar essa estrutura e libertar a promoção dos direitos humanos daqueles que a explorariam é o sistema de instituições internacionais nascido das tragédias de duas ruinosas guerras mundiais e da experiência da crise econômica em todo o mundo. É bastante significativo que o termo direitos humanos tenha se tomado de uso geral somente após a promulgação da Carta das Nações Unidas, em 1945, e da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, três anos mais tarde. Nesses dois documentos históricos, reconheceu-se formalmente o respeito pela justiça social como um fator correlato ao estabelecimento da paz mundial. O fato de ter sido aprovada sem um único voto dissidente pela Assembléia Geral da O.N.U. conferiu à Declaração Universal dos Direitos Humanos, desde seu nascimento, uma autoridade que foi crescendo firmemente nos anos subseqüentes.

A atividade mais intimamente ligada à consciência, a qual distingue a natureza humana, é a investigação individual da realidade. A liberdade de investigar o propósito da existência e desenvolver os atributos da natureza humana, que tornam esse propósito alcançável, precisa ser protegida. Os seres humanos precisam ser livres para conhecer. O fato de tal liberdade ser freqüentemente abusada e de tal abuso ser flagrantemente encorajado por certas características da sociedade contemporânea não diminuem, de modo algum, a validade do impulso em si.

É esse notável impulso da consciência humana que provê o imperativo moral para a enunciação de muitos dos direitos consagrados na Declaração Universal e nos Acordos correlatos. Educação universal, livre trânsito, acesso à informação e oportunidade de participar da vida política são todos aspectos de seu funcionamento que exigem garantias explícitas por pai-te da comunidade internacional. O mesmo é verdadeiro quanto à liberdade de pensamento e crença, incluída aí a liberdade religiosa, bem como o direito de ter opiniões e expressá-las adequadamente.

Uma vez que o conjunto da humanidade é uno e indivisível, cada membro da raça humana nasce neste mundo como um guardião do todo. Essa custódia constitui o fundamento moral da maioria dos outros direitos -- principalmente os econômicos e sociais -- que os instrumentos da O.N.U. também estão tentando definir. A segurança da família e do lar, o direito à propriedade e o direito à privacidade estão todos implícitos nessa custódia. As obrigações por parte da comunidade estendem-se à oferta de empregos, cuidados com a saúde mental e física, previdência social, salários justos, repouso e lazer, e a mais uma infinidade de outras expectativas razoáveis por pai-te dos membros individuais da sociedade.

O princípio da custódia coletiva também cria, para cada pessoa, o direito de esperar que as condições culturais essenciais à sua identidade tenham a proteção de leis nacionais e internacionais. À semelhança do papel desempenhado pelo pool genético na vida biológica da humanidade e de seu meio ambiente, a imensa riqueza de diversidade cultural conquistada ao longo de milhares de anos é vital para o desenvolvimento sócio-econômico de uma raça que experimenta sua entrada coletiva na maioridade. Essa diversidade cultural representa uma herança que deve ter a oportunidade de produzir seus frutos numa civilização global. Por um lado, é preciso proteger as expressões culturais contra o estrangulamento causado pelas influências materialistas que hoje predominam. Por outro, as culturas devem ser capazes de interagir umas com as outras dentro de padrões de civilização em constante mutação, livres de qualquer manipulação para fins políticos sectários.

"A luz dos homens", declara Bahá'u'lláh, "é a Justiça. Não a apagueis com os ventos adversos da opressão e da tirania. O propósito da Justiça é o surgimento da unidade entre os homens. O oceano da Divina Sabedoria encapela-se nesta palavra excelsa, embora os livros do inundo não possam conter Sua significação interior".

III

Para que o conceito de direitos humanos que hoje está sendo formulado pela comunidade das nações possa ser promovido e estabelecido sob a forma de normas internacionais eficazes, exige-se uma redefinição fundamental das relações humanas. As atuais concepções sobre o que é natural e apropriado nas relações - entre os próprios seres humanos, entre eles e a natureza, entre indivíduo e sociedade, entre os membros da sociedade e suas instituições - refletem níveis de compreensão que foram alcançados pela raça humana em estágios mais primitivos e menos maduros de seu desenvolvimento. Se a humanidade está realmente entrando na maioridade, se todos os habitantes do planeta constituem um único povo, se a justiça deve ser o princípio governante da organização social, então as concepções existentes, nascidas da ignorância dessas realidades emergentes, precisam ser repensadas.

O movimento nessa direção mal se iniciou. Ao desdobrar-se, ele levará a uma nova compreensão da natureza da família e dos direitos e responsabilidades de cada um de seus membros. Irá transformar por completo o papel da mulher em todos os níveis da sociedade. Seus efeitos, no sentido de reordenar a relação das pessoas com o trabalho a que se dedicam e sua compreensão do lugar que a atividade econômica ocupa em suas vidas, serão extraordinários. Ele ocasionará mudanças de longo alcance na governança dos assuntos humanos e nas instituições criadas para executá-la. Através de sua influência, a atividade das organizações não-governamentais, que proliferam com rapidez, será cada vez mais racionalizada. Ele irá assegurar a criação de uma legislação impositiva que protegerá tanto o meio ambiente quanto as necessidades de desenvolvimento de todos os povos. Finalmente, a reestruturação ou transformação do sistema da O.N.U., que esse movimento já está ocasionando, irá, sem dúvida alguma, levar ao estabelecimento de uma federação mundial de nações com seus próprios órgãos legislativo, judiciário e executivo.

Fundamental para a tarefa de reconceitualização do sistema de relações humanas é o processo a que Bahá'u'lláh se refere como consulta. Em todos os assuntos é necessário consultar, é Seu conselho. A maturidade do dom da compreensão manifesta-se através da consulta.

O padrão de busca da verdade exigido por esse processo está. muito além dos atuais padrões de negociação e compromisso que, em geral, caracterizam a discussão dos assuntos humanos em nossa época. Esse padrão não pode ser alcançado - na realidade, sua consecução é severamente limitada - pela cultura de protesto que é outra característica dominante da sociedade contemporânea. A controvérsia, a propaganda, o método antagonístico, o inteiro aparato do partidarismo que há longo tempo caracterizam a ação coletiva são todos fundamentalmente prejudiciais ao seu propósito: isto é, chegar a um consenso sobre a verdade de uma dada situação e à escolha da ação mais sábia dentre as opções disponíveis num dado momento.

O que Bahá'u'lláh indica é um processo consultivo no qual os participantes se empenhem por transcender seus pontos de vista individuais, a fim de funcionarem como membros de um corpo com, interesses e objetivos próprios. Em tal atmosfera, caracterizada por sinceridade e cortesia, as idéias não pertencem à pessoa a quem essas ocorrem durante a conversa e sim ao grupo como um todo, para que ele as aceite, rejeite ou revise, como melhor lhe parecer para servir ao objetivo em vista. A consulta tem sucesso na medida em que todos os participantes apoiam as decisões acordadas, independentemente das opiniões individuais que tinham ao iniciarem os trabalhos. Sob tais circunstâncias, uma decisão anterior pode ser reconsiderada prontamente se a experiência demonstrar quaisquer limitações.

Vista sob essa luz, a consulta é a expressão operacional da justiça nos assuntos humanos. A consulta é tão vital para o sucesso do esforço coletivo que deve tomar-se uma das características básicas de toda estratégia viável de desenvolvimento sócioeconômico. Com efeito, a participação das pessoas, de cujo compromisso e empenho depende o sucesso dessa estratégia, só se toma eficaz quando fazemos da consulta o princípio organizador de todo projeto. Homem algum pode alcançar sua verdadeira posição, é o conselho de Bahá'u'lláh, exceto através de sua justiça. Nenhum poder existe a não ser através da unidade. Nenhum conforto e bem-estar podem ser alcançados salvo através da consulta.

IV

As tarefas vinculadas ao desenvolvimento de uma sociedade global requerem níveis de capacidade muito além de tudo o que a raça humana foi capaz de aglutinar até os dias de hoje. Alcançar tais níveis irá exigir uma enorme expansão do acesso ao conhecimento, tanto por parte dos indivíduos quanto das organizações sociais. A educação universal será um fator indispensável para esse processo de capacitação, mas o esforço só terá sucesso quando os assuntos humanos forem reorganizados de modo a permitir que indivíduos e grupos, de todos os setores da sociedade, adquiram conhecimento e o apliquem na orientação dos assuntos humanos.

Ao longo da história registrada, a consciência humana sempre dependeu de dois sistemas básicos de conhecimento, através dos quais suas potencialidades foram se expressando progressivamente: a ciência e a religião. Através dessas duas forças, a experiência da raça humana foi organizada, seu meio ambiente interpretado, explorados seus poderes latentes e disciplinada sua vida moral e intelectual. A religião e a ciência agiram como as verdadeiras progenitoras da civilização. Além disso, ao nosso olhar retrospectivo, toma-se evidente que a eficácia dessa estrutura dualista foi maior durante os períodos em que a religião e a ciência, cada qual em sua esfera, foram capazes de trabalhar em harmonia.

Tendo em vista o respeito quase universal de que hoje desfruta a ciência, não precisamos analisar suas credenciais. No contexto de uma estratégia de desenvolvimento sócioeconômico, porém, a questão que se apresenta é como a atividade científica e tecnológica deve ser organizada. Se o trabalho envolvido tiver como meta principal a manutenção das elites estabelecidas num pequeno número de nações, está mais do que evidente que a imensa brecha já criada entre os ricos e pobres do mundo irá apenas continuar a se ampliar, com as desastrosas conseqüências, Já mencionadas, para a economia mundial. De fato, se a maior parte da humanidade continuar a ser considerada como meros usuários dos produtos da ciência e tecnologia criados em outros países, então os programas ostensivamente destinados a atender suas necessidades não poderão ser chamados de desenvolvimento.

Portanto, um desafio fundamental - e imenso - é a expansão da atividade científica e tecnológica. Esses poderosos instrumentos de mudança social e econômica devem deixar de ser património de segmentos privilegiados da sociedade, passando a ser organizados de modo a permitir que os povos de todo o mundo participem dessa atividade de acordo com sua capacidade. Além da criação de programas que coloquem a educação necessária ao alcance de todos aqueles que são capazes de usufruir seus benefícios, essa reorganização requererá o estabelecimento de centros viáveis de aprendizado em todo o mundo, instituições que irão amplificar a capacidade dos povos do mundo para participar da geração e aplicação do conhecimento. A estratégia desenvolvimentista, embora reconhecendo as amplas diferenças na capacidade individual, deve assumir como um de seus objetivos principais a tarefa de tomar possível a todos os habitantes da Terra aproximar-se em pé de igualdade dos processos de ciência e tecnologia que lhes pertencem por direito de nascença. Os conhecidos argumentos a favor da manutenção do status quo perdem força a cada dia que passa, na medida em que a revolução acelerada nas tecnologias de comunicação coloca a informação e a educação ao alcance de um vasto número de pessoas em todo o mundo - onde quer que elas estejam e qualquer que seja seu ambiente cultural.

Os desafios que se apresentam à humanidade em sua vida religiosa, se diferentes em caráter, são igualmente assustadores. Para a imensa maioria da população do mundo, a idéia de que a natureza humana tem uma dimensão espiritual - ou seja, que sua identidade fundamental é espiritual - é uma verdade que não requer demonstração. Esta é uma percepção da realidade que pode ser encontrada nos mais antigos registros da civilização e que tem sido cultivada há milênios por todas as grandes tradições religiosas do passado da humanidade. Suas conquistas duradouras no campo das leis, nas belas-artes e no processo civilizatório das relações humanas são o que dá substância e significado à história. De uma forma ou de outra, seus estímulos exercem uma influência cotidiana na vida da maioria dos povos da Terra e, como mostram dramaticamente os acontecimentos mundiais dos nossos dias, os anseios despertados por ela são inextinguíveis e de uma potência incalculável.

Parece evidente, portanto, que todos os tipos de esforços para promover o progresso humano devem tentar acessar essas capacidades tão universais e tão imensamente criativas. Mas então, por que as questões espirituais que se apresentam à humanidade não estão no âmago do discurso desenvolvimentista? Por que a maioria das prioridades - com efeito, a maioria das premissas subjacentes - dos programas internacionais de desenvolvimento é até hoje determinada por cosmovisões materialistas com as quais apenas pequenas minorias da população da Terra concordam? Que valor se pode atribuir a uma professada devoção ao princípio da participação universal que nega a validade da experiência cultural significativa dos participantes?

Pode-se argumentar que, estando os assuntos espirituais e morais historicamente ligados a doutrinas teológicas rivais que não são suscetíveis de prova objetiva, tais assuntos ficam fora do arcabouço das considerações desenvolvimentistas da comunidade internacional; dar-lhes qualquer papel significativo significaria abrir as portas exatamente para aquelas influências dogmáticas que nutriram o conflito social e bloquearam o progresso humano. Não há dúvida de que há um certo grau de verdade nesse argumento. Os expoentes dos vários sistemas teológicos mundiais têm uma pesada responsabilidade não só pelo descrédito em que caiu a fé entre muitos pensadores progressistas como também pelas inibições e distorções produzidas no contínuo discurso da humanidade sobre o sentido espiritual. No entanto, concluir que a resposta está em desencorajar a investigação da realidade espiritual e ignorar as raízes mais profundas da motivação humana é uma ilusão manifesta. O único efeito, no nível alcançado por essa censura na história recente, foi o de entregar o traçado do futuro da humanidade às mãos de uma nova ortodoxia que argumenta ser a verdade amoral e os fatos independentes dos valores.

Com relação à existência terrena, muitas das grandes conquistas da religião foram de caráter moral. Através de seus ensinamentos e dos exemplos de vidas humanas por eles iluminadas, povos de todas as épocas e regiões desenvolveram a capacidade de amar. Aprenderam a disciplinar o lado animal de suas naturezas, a fazer grandes sacrifícios pelo bem comum, a praticar, o perdão, a generosidade e a confiança e a usar a riqueza e outros recursos de maneiras propícias ao avanço da civilização. Delinearam-se sistemas institucionais para traduzir esses avanços morais em normas gerais de vida social. Embora obscurecidos por acréscimos dogmáticos e desviados-por conflitos sectários, os impulsos espirituais postos em movimento por figuras transcendentes como Krishna, Moisés, Buda, Zoroastro, Jesus e Maomé foram a principal influência no processo civilizatório do caráter humano.

Uma vez que o desafio é potencializar a humanidade através de uma imensa expansão do acesso ao conhecimento, a estratégia que pode tornar isso possível deve ser construída em tomo de um diálogo contínuo e intenso entre a ciência e a religião. É um truísmo - ou, pelo menos, deveria ser nos dias de hoje - que em todas as esferas e em todos os níveis da atividade humana os insights e habilidades representativos da conquista científica deveriam buscar a força do compromisso espiritual e do princípio moral para assegurar sua correta aplicação. Por exemplo, os povos precisam aprender a separar o fato da conjectura - na verdade, distinguir entre a opinião subjetiva e a realidade objetiva; contudo, a medida até a qual indivíduos e instituições assim equipados podem contribuir para o progresso humano será determinada por sua devoção à verdade e seu desapego aos impulsos de seus próprios interesses e paixões. Uma outra capacidade que a ciência deve cultivar em todos os povos é a de pensar em termos de processo, incluindo-se ai o processo histórico; no entanto, se queremos que esse avanço intelectual venha a contribuir definitivamente para a promoção do desenvolvimento, sua perspectiva não pode ser obscurecida por preconceitos de raça, cultura, sexo ou crença sectária. Similarmente, o treinamento que possibilita aos habitantes da Terra participarem da produção de riquezas só irá promover as metas de desenvolvimento na medida em que tal impulso for iluminado pelo insight espiritual de que o serviço à humanidade é o propósito tanto da vida individual quanto da organização social.

V

É no contexto de uma elevação do patamar da capacidade humana através da expansão do conhecimento, em todos os níveis, que as questões econômicas enfrentadas pela humanidade devem ser analisadas. Como demonstrou a experiência de décadas recentes, os esforços e benefícios materiais não podem ser vistos como fins em si mesmos. Seu valor está não apenas em atender às necessidades básicas da humanidade por moradia, alimento, cuidados de saúde e similares, como também em ampliar o alcance das capacidades humanas. O papel mais importante que os esforços econômicos devem desempenhar no desenvolvimento consiste, portanto, em proporcionar aos povos e às instituições meios através dos quais possam alcançar o real propósito do desenvolvimento: lançar os alicerces para uma nova ordem social capaz de cultivar as potencialidades ilimitadas latentes na consciência humana.

O desafio ao pensamento econômico é aceitar sem quaisquer ambigüidades este propósito do desenvolvimento - bem como seu próprio papel no processo de se criarem meios para alcançá-lo. Só assim podem a economia e as ciências correlatas libertarem-se da contracorrente das preocupações materialistas que hoje as perturbam e cumprir seu potencial de instrumentos vitais para a conquista do bem-estar humano no mais pleno sentido da palavra. Em lugar nenhum a necessidade de um rigoroso diálogo entre o trabalho da ciência e os insights da religião é mais evidente.

O problema da pobreza é um caso típico. As propostas visando discutir a pobreza baseiam-se na convicção de que os recursos materiais existem ou podem, ser criados pelo esforço científico e tecnológico, o que viria aliviar e finalmente erradicar por completo essa antiga condição como uma característica da vida humana. Uma das principais razões pelas quais nunca se alcança este alívio é que os avanços científicos e tecnológicos necessários respondem a uma série de prioridades só tangencialmente relacionadas com os verdadeiros interesses da humanidade em geral. Será necessário um reordenamento radical dessas prioridades se quisermos finalmente livrar o mundo do fardo da pobreza. Tal conquista requer uma busca determinada pelos valores apropriados, uma busca que irá testar profundamente os recursos espirituais e científicos da humanidade. A religião terá sérias dificuldades em contribuir para esse empreendimento conjunto enquanto se mantiver aprisionada por doutrinas sectárias que não conseguem distinguir entre contentamento e mera passividade, e ensinam que a pobreza é uma característica inerente à vida terrena, da qual só se escapa no mundo vindouro. Para participar eficazmente da luta por trazer bem-estar material à humanidade, o espírito religioso precisa encontrar - na Fonte de inspiração da qual ele flui - novos conceitos e princípios espirituais relevantes a uma época que busca estabelecer a unidade e a justiça nos assuntos humanos.

O desemprego suscita questões similares. Na maior parte do pensamento contemporâneo, o conceito de trabalho costuma ser reduzido à idéia de um emprego remunerado que proporcione ao indivíduo os meios para consumir os bens disponíveis. O sistema é circular: poder de compra e consumo resultam na manutenção e expansão da produção de bens e, em conseqüência, sustentam o emprego remunerado. Tomadas individualmente, todas essas atividades são essenciais para o bem-estar da sociedade. No entanto, a inadequação do conceito geral pode ser comprovada tanto na apatia que os cientistas sociais discernem entre as imensas massas assalariadas de todos os países, quanto na desmoralização dos crescentes exércitos de desempregados.

Não causa surpresa, portanto, existir um reconhecimento crescente de que o mundo precisa com urgência de uma nova ética do trabalho. Aqui também, nada menos que insights gerados pela interação criativa dos sistemas científicos e religiosos de conhecimento poderão produzir uma reorientação fundamental dos hábitos e atitudes. Diferentemente dos animais, que dependem para seu sustento daquilo que o meio ambiente possa proporcionar-lhes de imediato, os seres humanos são impelidos a expressar as imensas capacidades latentes dentro de si através do trabalho produtivo destinado a satisfazer tanto as suas próprias necessidades quanto as dos outros. Ao agirem assim, eles se tornam participantes, por modesta que seja sua contribuição, dos processos de avanço da civilização. Cumprem propósitos que os unem aos outros. Na medida em que o trabalho é conscientemente assumido num espírito de serviço à humanidade, afirma Bahá'u'lláh, ele é uma forma de prece, um meio de adoração a Deus. Todo indivíduo tem a capacidade de ver a si próprio sob essa luz, e é a essa inalienável capacidade do eu que a estratégia de desenvolvimento deve fazer apelo, qualquer que seja a natureza dos planos em vista, quaisquer que sejam os benefícios por eles prometidos. Nada que seja menor do que essa perspectiva jamais poderá exigir dos povos do mundo a magnitude de esforço e comprometimento que as tarefas econômicas do futuro irão exigir.

Um desafio de natureza similar apresenta-se ao pensamento econômico como resultado da crise ambiental. As falácias das teorias baseadas na crença de que não há limites à capacidade da natureza em atender a todas as exigências humanas, estão agora sendo friamente expostas. Uma cultura que confere valor absoluto à expansão, ao consumo e à satisfação dos desejos pessoais está sendo compelida a reconhecer que tais objetivos não são, por si sós, guias realísticos para a política. Inadequadas, também, são as abordagens dos assuntos econômicos cujas ferramentas decisórias não conseguem lidar com o fato de que a maior parte dos principais desafios tem um alcance global e não particular.

A ardente esperança de que essa crise moral possa de algum modo ser enfrentada pelo endeusamento da própria natureza é uma evidência do desespero espiritual e intelectual por ela gerado. O reconhecimento de que a criação é um todo orgânico e de que a humanidade tem a responsabilidade de cuidar desse todo e acolhê-lo tal como ele é, não representa uma influência que possa, por si só, estabelecer na consciência dos povos um novo sistema de valores. Somente um novo avanço na compreensão, que seja científico e espiritual no mais pleno sentido dessas palavras, irá capacitar a raça humana a assumir a custódia em direção à qual a história a impele.

Todos os povos, por exemplo, mais cedo ou mais tarde, precisarão recuperar a capacidade para o contentamento, a alegria da disciplina moral e a devoção ao dever que até época relativamente recente eram considerados aspectos essenciais do ser humano. Repetidamente através da história, os ensinamentos dos Fundadores das grandes religiões têm sido capazes de instilar estas qualidades de caráter nos povos que a eles responderam. Estas qualidades tornaram-se ainda mais vitais nos dias de hoje, mas sua expressão deve agora assumir uma forma consistente com a entrada da raça humana na maioridade. Aqui, novamente, o desafio da religião é libertar-se das obsessões do passado: contentamento não é fatalismo; moralidade nada tem em comum com o puritanismo negador da vida que tão freqüentemente pretendeu falar em seu nome; e uma genuína devoção ao dever não traz um sentimento de superioridade e sim a auto-estima.

O efeito da persistente negação às mulheres de uma plena igualdade com os homens aguça ainda mais o desafio à ciência e religião na vida econômica da humanidade. Para qualquer observador objetivo, o princípio da igualdade entre os sexos é fundamental para todo pensamento realístico sobre o bem-estar futuro da Terra e de seus povos. Ele representa uma verdade sobre a natureza humana que tem aguardado longamente por reconhecimento através das eras da infância e adolescência da humanidade. As mulheres e os homens, é a enfática afirmação de Baháu'lláh, sempre foram e sempre serão iguais aos olhos de Deus. A alma racional não tem sexo e quaisquer que tenham sido as desigualdades sociais ditadas pelas exigências da sobrevivência no passado, está claro que elas não podem ser justificadas nesta época em que a raça humana se encontra no limiar da maturidade. Um compromisso com o estabelecimento da plena igualdade entre homens e mulheres, em todos os setores da vida e em todos os níveis da sociedade, será fundamental para o sucesso dos esforços por se conceber e implementar uma estratégia de desenvolvimento global.

De fato, num sentido importante, o progresso nessa área será uma medida do sucesso de qualquer programa de desenvolvimento. Dado o papel vital da atividade econômica no avanço da civilização, uma evidência visível do ritmo no qual o desenvolvimento está progredindo será a extensão até a qual as mulheres ganhem acesso a todas as vias do esforço econômico. O desafio vai além de assegurar uma -distribuição equitativa de oportunidades, por mais importante que seja esse aspecto. Ele pede umareflexão fundamental sobre os assuntos econômicos, de maneira a atrair a plena participação de uma gama de experiências e insights humanos até agora amplamente excluídos do discurso. Os clássicos modelos econômicos de mercados impessoais nos quais os seres humanos agem como autônomos que fazem escolhas egoístas não servirão às necessidades de um mundo motivado por ideais de unidade e justiça. A sociedade irá encontrar-se crescentemente desafiada a desenvolver novos modelos econômicos delineados por insights nascidos de uma compreensão solidária de, experiências compartilhadas, da visão dos seres humanos em relação uns aos outros e do reconhecimento da centralidade do papel da família e da comunidade para o bem-estar social. Este avanço intelectual - cujo foco é fortemente altruísta e não mais autocentrado - deverá exercer uma forte atração sobre a sensibilidade espiritual e científica da raça humana; milênios de experiência prepararam as mulheres para dar uma contribuição crucial. ao esforço comum.

VI

Pretender uma transformação da sociedade nessa escala significa levantar tanto a questão do poder que seria utilizado para realizá-la quanto a questão, inseparavelmente ligada à primeira, da autoridade para exercer esse poder. Assim como ocorre com todas as outras implicações da integração acelerada do planeta e seus povos, esses dois termos familiares permanecem em urgente necessidade de uma redefinição.

Ao longo da história - e apesar das afirmações em contrário, de inspiração teológica ou ideológica - o poder geralmente foi interpretado como uma vantagem desfrutada por pessoas ou grupos. Na verdade, com muita freqüência ele foi expresso simplesmente em termos de meios a serem empregados contra outros. Essa interpretação do poder tornouse um aspecto inerente à cultura de divisão e conflito que tem caracterizado a raça humana no decorrer dos últimos milênios, independentemente das orientações sociais, religiosas ou políticas que predominaram em cada época nas diversas partes do mundo. De um modo geral, o poder tem sido um atributo de indivíduos, facções, povos, classes e nações. Um atributo especialmente associado aos homens, e não às mulheres, seu principal efeito tem sido o de conferir a seus beneficiários a capacidade de adquirir, superar, dominar, resistir, vencer.

Os processos históricos resultantes foram responsáveis tanto pelos ruinosos retrocessos do bem-estar humano quanto pelos extraordinários avanços da civilização. Apreciar os benefícios significa reconhecer também os retrocessos, bem como as claras limitações dos padrões de comportamento produzidos por ambos. Hábitos e atitudes relacionados ao uso do poder, que emergiram durante as longas eras da infância e adolescência da humanidade, alcançaram os limites externos de sua eficácia. Hoje, em uma era em que a maioria dos problemas prementes são de natureza global, persistir na crença de que o poder significa vantagem para vários segmentos da família humana é algo profundamente equivocado a nível teórico e sem nenhum valor prático ao desenvolvimento sócioeconômico do planeta. Aqueles que ainda aderem a essa idéia - e que, em épocas anteriores, possam nela ter sentido confiança - agora encontram seus planos enredados em inexplicáveis frustrações e dificuldades. Em sua expressão tradicional e competitiva, o poder é tão irrelevante às necessidades da humanidade futura quanto o seriam as tecnologias de transporte ferroviário à tarefa de se colocar em órbita, ao redor da Terra, satélites espaciais.

A analogia é bastante adequada. A raça humana está sendo pressionada pelas exigências de sua própria maturação a libertar-se das idéias herdadas sobre o que e o poder e como usá-lo. Que ela tem condições de fazê-lo, está demonstrado pelo fato de que, embora dominada pela concepção tradicional, a humanidade sempre foi capaz de conceber o poder sob outras formas vitais às suas esperanças. A história oferece amplas evidências de que ao longo dos tempos, mesmo que de modo intermitente e inepto, povos de todas as origens buscaram dentro de si mesmos uma vasta gama de recursos criativos. O exemplo mais evidente talvez seja o do poder da verdade, um agente de mudança associado a alguns dos maiores avanços na experiência filosófica, religiosa, artística e científica da raça humana. A força de caráter representa um outro meio de se mobilizar imensa resposta humana, assim como o faz a influência do exemplo, seja na vida do indivíduo ou das sociedades humanas. Quase totalmente despercebida é a magnitude da força que será gerada pela conquista da unidade, uma influência tão poderosa, nas palavras de Bahá'u'lláh, que pode iluminar toda a Terra.

As instituições da sociedade terão sucesso em trazer à luz e direcionar as potencialidades latentes na consciência dos povos do mundo na medida em que o exercício da autoridade for governado por princípios harmonizados com a evolução dos interesses de uma raça humana em rápido amadurecimento. Tais princípios incluem a obrigação daqueles em posição de autoridade de conquistar a confiança, o respeito e o apoio genuíno daqueles cujas ações eles buscam governar; consultar, abertamente e na maior medida possível, com todos aqueles cujos interesses são afetados pelas decisões em pauta; avaliar, de modo objetivo, tanto as reais necessidades quanto as aspirações das comunidades a quem servem; aproveitar os avanços científicos e morais para fazer uso adequado dos recursos da comunidade, incluindo a energia de seus membros. Nenhum princípio de autoridade efetiva é tão importante quanto dar prioridade à construção e manutenção da unidade entre os membros de uma sociedade e os membros de suas instituições administrativas. Já fizemos referência ao tema, intimamente associado a este, do compromisso com a busca da justiça em todos os assuntos.

É claro que estes princípios só funcionarão dentro de uma cultura que seja essencialmente democrática em espírito e método. Isto, no entanto, não significa endossar a ideologia de partidarismo que ousadamente, assumiu em toda as partes do mundo o nome de democracia e que, apesar de impressionantes contribuições ao progresso humano no passado, hoje se encontra atolada no cinismo, na apatia. e na corrupçâo aos quais ela própria deu origem. Ao selecionar aqueles que irão tomar decisões coletivas em seu favor, a sociedade não necessita, nem é bem servida, pelo teatro politico de nomeações, candidaturas, campanhas eleitorais e solicitação de votos. Existe dentro de todos os povos, na medida em que se tomam progressivamente educados e convencidos de que os programas propostos servem aos seus reais interesses de desenvolvimento, a capacidade de adotar procedimentos eleitorais que irão, gradualmente, aprimorar a seleção de seus órgãos decisórios.

À medida que a integraçâo da humanidade ganhar ímpeto, as pessoas assim selecionadas precisarão, cada vez mais, ver todos os seus esforços dentro de uma perspectiva global. Não somente a nível nacional como também a nível local, aqueles eleitos para governar os assuntos humanos deverão, na visão de Bahá'u'lláh, considerar a si mesmos como responsáveis pelo bem-estar de toda a humanidade.

VII

A tarefa de criar uma estrategia de desenvolvimento global que acelere a entrada da raça humana na maioridade constitui-se no desafio de se reformular, fundamentalmente, todas as instituições da sociedade. Os protagonistas a quem esse desafio se apresenta são todos os habitantes do planeta: a humanidade em geral, os membros das instituições governantes em todos os níveis, aqueles que trabalham em órgãos de coordenação internacional, os cientistas e pensadores sociais, todas as pessoas dotadas de talentos artísticos ou com acesso aos meios de comunicação, e os líderes das organizações não-governamentais. A resposta requerida deve basear-se no reconhecimento incondicional da unidade da humanidade, no compromisso de se estabelecer a justiça como o princípio organizador da sociedade, e na determinação de se explorar, ao máximo, as possibilidades que um diálogo sistemático, entre os talentos científico e religioso da raça, pode oferecer à edificação da capacidade humana. Este empreendimento requer uma reconsideração radical sobre a maioria dos conceitos e premissas que hoje governam a vida social e econômica. Deve, também, estar conjugado à convicção de que, por longo que seja o processo e quaisquer que venham a ser os retrocessos encontrados, a governança dos assuntos humanos pode ser conduzida ao longo de linhas que sirvam às reais necessidades da humanidade.

Somente se a infância coletiva da humanidade tiver realmente chegado ao fim e estiver raiando a era de sua maioridade, é que esta perspectiva poderá representar mais do que uma simples miragem utópica. Imaginar que um esforço da magnitude, aqui visionada possa ser organizado por povos e nações desesperançados. e mutuamente antagônicos é contrário a toda a sabedoria herdada pelo homem. Somente se o curso da evolução social tiver alcançado um daqueles pontos decisivos de mutação, como Bahá'u'lláh afirma ser o caso, por meio dos quais todos os fenômenos da existência são impelidos subitamente em direção a novos estágios de seu desenvolvimento, é que tal possibilidade poderá ser concebida. O que inspirou as visões expostas nesse documento é urna profunda convicção de que justamente esta grandiosa transformação na consciência humana está em marcha. A todos aqueles que nela reconhecem impulsos familiares, provenientes de seus próprios corações, as palavras de Bahá'u'lláh trazem a certeza de que Deus, nesse Dia sem igual, dotou a humanidade com recursos espirituais plenamente à altura deste desafio:

"Ó vós que habitais os céus e a terra! Apareceu o que nunca antes aparecera. Este é o Dia no qual os mais excelentes favores de Deus manaram sobre os homens, o Dia no qual Sua graça suprema se infundiu em todas as coisas criadas."

O tumulto que hoje convulsiona os assuntos humanos é sem precedentes, e muitas de suas conseqüências enormemente destrutivas. Perigos nunca antes imaginados em toda a história reunem-se à volta de uma humanidade aturdida. O maior erro que as lideranças mundiais poderiam cometer nessa conjuntura, no entanto, seria permitir que essa crise lance dúvidas sobre o resultado final do processo que hoje está em andamento. Um mundo está chegando ao seu término e um novo luta para nascer. Os hábitos, atitudes e instituições acumulados ao longo dos séculos estão sendo submetidos a testes que são tão necessários ao desenvolvimento humano quanto inescapáveis. O que é exigido dos povos do mundo é uma medida de fé e resolução para estarem à altura das imensas energias com as quais o Criador de todas as coisas dotou esta primavera espiritual da raça humana. "Sêde tinidos em conselho," é o apelo de Bahá'u'lláh,

"sêde um só em pensamento. Que cada manhã seja melhor do que sua véspera e cada novo dia mais rico que o dia anterior. O mérito do homem repousa no serviço e na virtude e não na ostentação de riqueza e bens. Atentai para que vossas palavras estejam livres de vãs fantasias e desejos mundanos, e vossos atos purificados de malícia e suspeita. Não dissipeis o tesouro de vossas vidas preciosas na busca de afeições más e corruptas, nem despendais vossos esforços na promoção de vossos interesses pessoais. Sêde generosos em vossos dias de abundância, e pacientes nas horas de perda. A adversidade é seguida pelo sucesso e a alegria sucede ao pesar. Guardai-vos contra a ociosidade e a indolência, e aderi àquilo que possa trazer beneficio aos homens, sejam jovens ou idosos, eminentes ou humildes. Cuidai para não semeardes o joio da dissensão entre os homens, nem plantardes os espinhos Ia dúvida em corações puros e radiantes."

A Cidadania Mundial

A Cidadania Mundial

No espírito da Agenda 21, como um "programa dinâmico" destinado a "evoluir ao longo do tempo à luz das necessidades e circunstâncias em constantetransformação"1 a Comunidade Internacional Baha'i oferece a seguinte proposta: as campanhas de educação e conscientização recomendadas na Agenda 21 deveriam cultivar o conceito de cidadania mundial para assim inspirar os povos do mundo a promoverem o desenvolvimento sustentável.

Nova Iorque, Estados Unidos—14 June 1993

A Visão Da Cidadania Mundial

O maior desafio que a comunidade mundial enfrenta na mobilização para implementar a Agenda 21 é o de liberar os enormes recursos financeiros, técnicos, humanos e morais necessários ao desenvolvimento sustentável. Tais recursos somente serão liberados na medida em que os povos do mundo desenvolvam um profundo senso de responsabilidade pelo destino do planeta e pelo bem-estar da inteira família humana.

Este senso de responsabilidade somente poderá emergir da aceitação da unidade da humanidade, e somente será sustentado por uma visão unificadora de uma sociedade mundial pacífica e próspera. Sem esse tipo de ética global, as pessoas não poderão se tornar participantes ativos e construtivos no processo mundial de desenvolvimento sustentável.2

Ainda que a Agenda 21 forneça um arcabouço indispensável de conhecimento científico e "know-how" técnico para a implementação do desenvolvimento sustentável, ela não inspira um compromisso pessoal a uma ética global. Isso não significa que a ética e os valores tenham sido desconsiderados durante o processo da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED). A chamada por valores unificadores foi levantada durante todo aquele processo, por Chefes de Estado, oficiais da ONU, representantes de organizações não-governamentais (ONG’s) e cidadãos individuais. Em particular, os conceitos de "nossa humanidade comum", "cidadania mundial" e "unidade na diversidade" foram invocados para servirem como o sustento ético para a Agenda 21 e a Declaração do Rio.3

Assim, a comunidade mundial já chegou a um acordo básico sobre a necessidade de uma ética global para vitalizar a Agenda 21. Sugerimos que a expressão, cidadania mundial, seja adotada para englobar o conjunto dos princípios, valores, atitudes e comportamentos que os povos do mundo devem adotar para a realização do desenvolvimento sustentável.

A cidadania mundial começa com a aceitação da unidade da família humana e a interconexão das nações da "Terra, nosso lar".4 Ao mesmo tempo que incentiva um patriotismo são e legítimo, ela insiste também numa lealdade mais ampla, um amor à humanidade como um todo. Não implica, entretanto, no abandono de lealdades legítimas, na supressão da diversidade cultural, na abolição da autonomia nacional ou na imposição da uniformidade. Ela é caracterizada pela "unidade na diversidade". A cidadania mundial engloba os princípios de justiça social e econômica, entre as nações e dentro das mesmas; a tomada de decisões de maneira cooperativa em todos os níveis da sociedade; a igualdade dos sexos; a harmonia racial, étnica, nacional e religiosa; e, a disposição de sacrificar-se pelo bem comum. Outras facetas da cidadania mundial -  todas as quais promovem a honra e a dignidade humanas, a compreensão, a amizade, a cooperação, a confiabilidade, a compaixão e o desejo de servir -podem ser deduzidas daquelas já mencionadas. Alguns destes princípios5 têm sido articulados na Agenda 21; entretanto, a maioria chama a atenção pela sua ausência. Outrossim, não foi fornecido nenhum arcabouço conceitual sob o qual eles pudessem ser harmonizados e promulgados.

Fomentar a cidadania mundial é uma estratégia prática para promover o desenvolvimento sustentável. Enquanto a desunião, o antagonismo e o provincialismo caracterizarem as relações sociais, políticas e econômicas dentro e entre as nações, um padrão global e sustentável de desenvolvimento não poderá ser estabelecido.6 Há mais de um século, Bahá’u’lláh advertiu, "O bem-estar da humanidade, sua paz e segurança, são inatingíveis, a não ser e até que se estabeleça firmemente sua unidade". Uma sociedade global sustentável somente poderá ser construída sobre o alicerce de unidade, harmonia e compreensão genuínas entre os diversos povos e nações do mundo.

Portanto, recomendamos que a cidadania mundial seja ensinada em todas as escolas e que a unidade da humanidade – o princípio que fundamenta a cidadania mundial – seja constantemente declarado em cada nação.

O conceito de cidadania mundial não é novo para a comunidade mundial. Ele está implícito e explícito em muitos documentos, cartas e acordos da ONU, inclusive nas primeiras palavras da própria Carta da ONU: "Nós, os povos das Nações Unidas...", e já está sendo promovido ao redor do mundo em todas as culturas por diversas ONG’s, acadêmicos, grupos de cidadãos, artistas, programas educativos e pela mídia. Tais esforços são significativos, mas precisam ser largamente ampliados. Uma campanha de longo prazo, cuidadosamente planejada e orquestrada, e envolvendo todos os setores da sociedade em nível local, nacional e internacional, precisa ser iniciada para fomentar a cidadania mundial. A mesma deve ser prosseguida com todo o vigor, coragem moral e convicção que as Nações Unidas, seus Estados membros e todos os parceiros que estiverem dispostos a colaborar, possam reunir.


A Promoção Da Cidadania Mundial

A seguinte proposta de uma campanha para promover a cidadania mundia7 cabe naturalmente dentro do arcabouço para a reorientação da educação, conscientização e capacitação visando o desenvolvimento sustentável, conforme apresentado no Capitulo 36 da Agenda 21.

A Educação

A educação – formal, não-formal e informal – é, sem dúvida, a maneira mais eficaz de moldar os valores, atitudes, comportamentos e habilidades que capacitarão os povos do mundo a agirem de acordo com os interesses de longo prazo do planeta e da humanidade como um todo.8 As Nações Unidas, os governos e as agências educacionais deveriam procurar tomar o princípio da cidadania mundial parte integrante da educação de cada criança.

Os detalhes dos programs e atividades educativas incorporando tal princípio irão variar muito entre as nações e dentro das mesmas. Entretanto, para que a cidadania mundial seja considerada um principio universal, todos os programas deverão ter certos aspectos em comum. Baseados no princípio da unidade da raça humana, eles deveriam cultivar a tolerância e a fraternidade, fomentando uma apreciação pela riqueza e importância dos diversos sistemas culturais, religiosos e sociais do mundo e fortalecendo aquelas tradições que contribuem para uma civilização mundial sustentável. Eles deveriam ensinar o princípio da "unidade na diversidade" como a chave para o poder e a riqueza, tanto para as nações quanto para a comunidade mundial. Deveriam fomentar uma ética de serviço ao bem comum e incutir uma compreensão dos direitos e responsabilidades da cidadania mundial. Tais programas e atividades deveriam partir dos esforços positivos do país e realçar seus sucessos tangíveis, incluindo modelos de unidade racial, religiosa, nacional e étnica. Deveriam enfatizar a importância da ONU na promoção de cooperação e compreensão globais; suas metas, objetivos e programas universais; sua relevância imediata aos povos e nações do mundo; e o papel que ela deve continuamente assumir em nosso mundo cada vez mais interconectado.

Antes que seja iniciada uma campanha para promover a cidadania mundial, será preciso desenvolver uma compreensão comum do conceito e alcançar um consenso sobre o mesmo. A Comissão para o Desenvolvimento Sustentável poderia formar um comitê especial ou grupo de trabalho para começar a desenvolver diretrizes para a cidadania mundial e propostas para a incorporação deste princípio nos programas existentes de educação formal c não-formal. Alternativamente, a Comissão poderia buscar a ajuda do Conselho Assessor de Alto Nível para o Desenvolvimento Sustentável ou o Comitê Inter-Agência sobre o Desenvolvimento Sustentável. O Secretariado da ONU poderia estabelecer um Centro para a Cidadania Mundial, semelhante ao antigo Centro de Estudos da Paz, para desenvolver tais diretrizes e coordenar a implementação em todo o sistema da educação para a cidadania mundial. Qualquer que seja o caminho escolhido-, esta tarefa terá que receber alta prioridade.

A cidadania mundial poderia facilmente ser incorporada em todas as atividades sugeridas no Capitulo 36. S. da Agenda 21, para reorientar a educação na direção do desenvolvimento sustentável. Alguns exemplos são ilustrativos:

As assessorias nacionais /mesas redondas (36.5.c) deveriam facilitar a incorporação da cidadania mundial nos programas educacionais dentro do país.

  • Os programas de treinamento e aperfeiçoamento para todos os professores, administradores, planejadores educacionais e educadores não-formais (36.5.d) deveriam incluir o princípio da cidadania mundial nas suas programações.

  • Os materiais educativos sobre o desenvolvimento sustentável produzidos pelas agências da ONU, bem como os materiais educativos sobre as Nações Unidas, deveriam incentivar a cidadania mundial (36.5.g).

  • A Agenda 21 recomenda "o desenvolvimento de uma rede internacional" para apoiar os esforços globais de educação para o desenvolvimento sustentável (36.5.k). Tal rede poderia incentivar as agências das Nações Unidas e ONG’s afiliadas a criarem materiais baseados nas diretrizes para a cidadania mundial e providenciarem os meios de compartilhá-los.

  • Os governos e as autoridades educacionais já foram instados a "eliminar os estereótipos baseados em gênero nos currículos", como um meio de promover o desenvolvimento sustentável (36.5.m). Recomendamos que, dentro do espírito de cidadania mundial, os estereótipos baseados em religião, cultura, raça, classe, nacionalidade e etnicidade sejam também eliminados.

A Conscientização Do Público

As pessoas precisam considerar-se cidadãos do mundo entender sua responsabilidade de promoverem o desenvolvimento sustentável.9 As campanhas de conscientização dos desafios da cidadania mundial devem aproveitar toda a mídia e as artes, inclusive a televisão, vídeo, cinema, rádio, redes eletrônicas, livros, revistas, cartazes, panfletos, teatro c música. Tais campanhas deveriam envolver as indústrias de publicidade e entretenimento, os meios tradicionais e não tradicionais de comunicação, o sistema inteiro das Nações Unidas, todos os Estados membros, as ONG’s e personalidades populares. Elas deveriam alcançar o lar, o local de trabalho, as áreas públicas e as escolas. As diretrizes para a cidadania mundial cujo estabelecimento foi recomendado acima devem ser adequadas para uso em tais campanhas de conscientização, e devem servir como a referência básica para toda a programação para a mídia.

A cidadania mundial poderia ser incluída nas atividades apresentadas no Capítulo 36.10. da Agenda 21, para aumentar a consciência e a sensibilidade do público em relação ao desenvolvimento sustentável. Os seguintes exemplos são ilustrativos:

  • Conselhos assessores nacionais e internacionais (36.10.a) poderiam incentivar os diversos meios de comunicação a adotarem as diretrizes para a cidadania mundial. A mídia tem feito muito para conscientizar o público sobre a interdependência global e os enormes desafios que a comunidade mundial enfrenta. Tem, também, realçado as diferenças aparentemente insuperáveis que nos dividem.

A mídia tem a responsabilidade de ajudar as pessoas a entenderem que a diversidade não precisa ser uma fonte de conflito; antes, a diversidade pode, e agora deve, servir como um recurso para o desenvolvimento sustentável. A mídia poderá alcançar esta meta, focalizando os empreendimentos construtivos, unificadores e cooperativos que comprovam a capacidade da humanidade de trabalhar junto para vencer os enormes desafios que ela enfrenta.

  • Ao promover "um relacionamento cooperativo com a mídia" (36.10.e), a ONU deve corajosamente definir sua própria identidade e a promessa que ela oferece à comunidade mundial. A Organização das Nações Unidas foi estabelecida com elevados ideais e uma visão de um mundo pacífico e progressivo. Fornecendo um arcabouço para a comunicação e a cooperação e iniciando inúmeros projetos construtivos, ela tem contribuído significativamente para a compreensão, esperança e boa vontade no mundo. Contudo, suas realizações são pouco conhecidas pela humanidade em geral.

Usando o conceito de cidadania mundial como tema integrador, as Nações Unidas deveriam divulgar seus ideais, atividades e metas, para que as pessoas venham a entender o papel único e vital que a ONU desempenha no mundo e, portanto, nas suas vidas. Semelhantemente, a ONU deveria promover a cidadania mundial em todas as suas atividades públicas, inclusive nas comemorações do quinquagésimo aniversário das Nações Unidas e nos passeios pela Sede da ONU. Cada documento da ONU que trata do desenvolvimento sustentável, a começar pelo preâmbulo da proposta Carta da Terra, deveria também incluir esse principio. A cidadania mundial deve-se tomar o ponto de referência ético mais importante em todas as atividades da ONU.

  • Os serviços da indústria de publicidade (36.10.e) devem ser recrutados para a promoção da cidadania mundial. Campanhas poderiam ser organizadas ao redor de temas tais como:

Nós, os Povos das Nações Unidas:

Celebrando a Unidade na Diversidade

Um Planeta, Um só Povo

Em Toda Nossa Diversidade,
Nós Somos uma só Família Humana

Nosso Futuro Comum:
A Unidade na Diversidade

  • Concursos deveriam ser realizados e prêmios concedidos pela promoção da cidadania mundial (36.10.e).
  • Enquanto conscientiza o público "sobre os impactos da violência na sociedade" (36.10.1), a mídia pode gerar um compromisso para com a cidadania mundial, realçando exemplos de empreendimentos construtivos e unificadores que mostram o poder da unidade e de uma visão comum.

Cada país deveria ser encorajado a alocar recursos para a promoção da cidadania mundial. Também deve-se considerar incluir nos propostos "indicadores do desenvolvimento sustentável" (40.6.) a promoção deste princípio. Por exemplo, os países poderiam ser incentivados a relatarem os esforços para promover o respeito e a apreciação das outras culturas, a igualdade dos sexos e o conceito de uma única família humana, através dos currículos escolares, do entretenimento e da mídia.

O Desafio Da Cidadania Mundial

Em conclusão, a cidadania mundial é um conceito tão desafiador e dinâmico quanto as oportunidades que a comunidade mundial enfrenta. A sabedoria exige que nós, os povos e nações do mundo, corajosamente adotemos seus princípios subjacentes e nos guiemos por eles em todos os aspectos das nossas vidas - nas nossas relações pessoais e comunitárias e nos assuntos nacionais e internacionais; nas nossas escolas, locais de trabalho e mídia e nas nossas instituições jurídicas, sociais e políticas. Nós, portanto, instamos a Comissão a encorajar o sistema inteiro das Nações Unidas a incorporar o princípio da cidadania mundial em todos seus programas e atividades.

A Comunidade Internacional Baha'i, que há mais de um século vem promovendo a cidadania mundial, aceitaria de bom grado ajudar a Comissão, os Governos, as ONG’s e outros a ampliarem os conceitos contidos neste documento; fornecer modelos práticos de unidade racial, religiosa, nacional e étnica para o desenvolvimento sustentável; e participar de consultas sobre esta questão crucial. Como uma comunidade global que abarca a diversidade da humanidade e compartilha uma visão comum, a Comunidade Internacional Baha'i continuará a promover o desenvolvimento sustentável, encorajando as pessoas a se considerarem cidadãos de um só mundo e construtores de uma civilização mundial justa e próspera.

NOTAS

(1) Agenda 21, Capítulo 1.6.

(2) Um dos temas mais frequentemente repetidos da Agenda 21 é a importância vital da "ampla participação pública na tomada de decisões"; "comprometimento e envolvimento genuíno de todos os grupos sociais"; "verdadeira parceria social"; e "novos níveis de cooperação entre Estados, setores chaves da sociedade e pessoas".

(3) A chamada por uma ética global foi levantada muitas vezes durante o processo da UNCED, especialmente na Cúpula da Terra e no Fórum Global, por Chefes de Estado, oficiais da ONU e Representantes das ONG’s; através de documentos oficiais da UNCED, tratados de ONG’s, oficinas de trabalho, livros e apresentações artísticas.Os seguintes exemplos são apenas alguns dos muitos:

- Os discursos na Cúpula da Terra pelo Presidente do Brasil; o Presidente da França; o Primeiro Ministro da Irlanda; o Primeiro Ministro do Japão; o Presidente da República das Ilhas Marshall; o Presidente dos Estados Unidos Mexicanos; o Príncipe do Reino do Marrocos; o Primeiro Ministro do Reino dos Países Baixos; o Primeiro Ministro da Turquia; o Primeiro Ministro de Tuvalu; o Secretário de Estado da Santa Sé e o Secretário Geral da UNCED;

- Tratados de ONG’s preparados no Fórum Global, inclusive O Tratado dos Jovens; A Carta da Terra; A Declaração do Rio de janeiro; A Declaração do Poro da Terra; O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e O Tratado de Compromissos Éticos;

- Atividades do Fórum Global, inclusive a Série Noturna no Parque, refletindo "a diversidade cultural da Família Humana" e o Monumento à Paz, cuja inscrição reza, "A Terra é um só país, e os seres humanos seus cidadãos";

- Declarações e publicações de governos, agências da ONU e ONG’s para as diversas Sessões Preparatórias e outros eventos relacionados à UNCED, inclusive O Código Universal de Conduta Ambiental (Simpósio ONG/Mídia, outubro de 1990); Em Nossas Mãos. As Mulheres e as Crianças Primeiro (Relatório do Simpósio UNCED/UNICEF/FNUAP, maio de 1991); A Carta da Terra (Rede de cidadãos dos EUA sobre UNCED, julho de 1991); Comunidade de uma Única Terra (O Grupo de Trabalho das Comunidades Religiosas sobre UNCED, agosto de 1991); Cuidando da Terra (IUCN/PNUMA/WWF,outubro de 1991); Uma Carta da Terra (Comitê Internacional de Coordenação sobre a Religião e a Terra, 199 1); Agenda Ta Wananchi (Raízes do Futuro, dezembro de 1991); Uma Ética Ambiental ou Carta da Terra (PNUMA - Comitê Nacional do Reino Unido, fevereiro de 1992); Princípios sobre Direitos e Obrigações Gerais (documento da Assembléia Geral A/CONF.151/PC/ WG.III/L.28,9 março 1992); Carta da Terra, Japão (Fórum dos Povos, Japão, 1992); Carta para o Conserto da Terra (Fundação para o Conserto da Terra, 1992);e NossoPaís, O Planeta (Sir Shridath Ramphal, 1992).

(4) Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Preâmbulo.

(5) Ver, por exemplo, A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Princípios 5, 8, 20, 25; e Agenda 21, Capítulos 1, 2, 3, 23, 24 e 36.

(6) Ver A Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Princípio 25.

(7) Dentro do contexto da cidadania mundial, este programa deve ser "executado pelos vários agentes conforme as diferentes situações, capacidades e prioridades dos países e regiões" (Agenda 21, Capítulo 1.6.).

(8) A Agenda 21, Capítulo 36.3., afirma que "A educação... deveria ser reconhecida como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podem alcançar seu mais alto potencial. A educação é fator crítico na promoção do desenvolvimento sustentável e na capacitação das pessoas para lidarem com questões de meio ambiente e desenvolvimento.... Tanto a educação não-formal quanto formal são indispensáveis para a mudança das atitudes das pessoas.... Outrossim, é de fundamental importância na formação de uma consciência, valores e atitudes ecológicas que sejam coerentes com o desenvolvimento sustentável e adequados para a participação efetiva do público na tomada de decisões. Para ser eficaz,... a educação... deveria tratar da dinâmica do meio ambiente físico/biológico e do meio sócio-econômico, assim como do desenvolvimento humano (incluindo, o espiritual)".

(9) A Agenda 21, Capítulo 36.9., chama a atenção à importância de se promover "ampla conscientização pública, como parte essencial de um esforço global de educação para fortalecer as atitudes, valores e ações que forem compatíveis com o desenvolvimento sustentável".

O Desenvolvimento Sustentável e o Espírito

O Desenvolvimento Sustentável e o Espírito

Adaptação da declaração apresentada à Cúpula da Terra (Conferência da Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento), Rio de Janeiro, Brasil.

Rio de Janeiro, Brasil—4 June 1992

Acima de questões técnicas e políticas tais como os limites a serem estabelecidos para a emissão de gases do efeito estufa, como promover o desenvolvimento sustentável, e quem pagará a conta, a pergunta fundamental com que se defronta a comunidade munidal é esta: Pode a humanidade, com seus padrões arraigados de conflito, egoísmo e conduta tacanha, comprometer-se com uma cooperação esclarecida e com um planejamento de longo prazo em escala global?

O processo da Cúpula da Terra realçou tanto a complexidade como a interdependência dos problemas que a humanidade enfrenta. Nenhum desses problemas ­ as iniquidades debilitadoras do desenvolvimento, as ameaças apocalípticas do aquecimento atmosférico e da destruição da camada de ozônio, a opressão da mulher, o abandono de crianças e populações marginalizadas, para citar apenas alguns ­ pode ser abordado com realismo sem que se considerem todos os demais. É impossível solucionar qualquer um deles sem uma magnitude de cooperação e coordenação em todos os níveis que ultrapassa em muito qualquer esforço anterior da experiência coletiva da humanidade.

O potencial para tal cooperação, entretanto, é solapado pela distorção geral do caráter humano. Embora não sejam comumente discutidas no contexto dos desafios do meio ambiente e do desenvolvimento, vigoram no mundo atual certas tendências ­ que incluem a carência generalizada de disciplina moral, a glorificação da ambição e da acumulação material, a destruição crescente da família e das comunidades, o alastramento da anarquia e da desordem, a ascensão do racismo e do fanatismo, e a atribuição de prioridade a interesses nacionais em detrimento do bem-estar da humanidade ­ as quais todas, sem excessão, destroem a confiança mútua, alicerce da cooperação.

A reversão dessas tendências destrutivas é essencial para o estabelecimento da unidade e da cooperação. Isso exigirá uma compreensão mais profunda da natureza humana; pois embora a economia, a política, a sociologia e a ciência ofereçam ferramentas importantes para a abordagem das crises interdependentes que afligem a humanidade, uma verdadeira superação do estado de perigo em que se encontram os assuntos humanos só poderá ser levada a efeito quando a dimensão espiritual da natureza humana for levada em conta e o coração humano, transformado.

Embora certos aspectos místicos não sejam fáceis de explicar, a dimensão espiritual da natureza humana pode ser compreendida, em termos práticos, como a fonte das qualidades que transcendem a estreiteza do interesse próprio. Tais qualidades compreendem o amor, a compaixão, a tolerância, a fidedignidade, a coragem, a humildade, a cooperação e a vontade de sacrificar-se pelo bem comum ­ qualidades de uma cidadania esclarecida, capaz de construir uma civilização mundial unificada.

As transformações profundas e de vasto alcance, a unidade e a cooperação sem precedentes, necessárias à reorientação do mundo rumo a um futuro de justiça e sustentável quanto ao meio ambiente, só serão possíveis tocando-se o espírito humano, apelando-se àqueles valores universais que, por si só, podem capacitar os indivíduos e os povos a agir em conformidade com os interesses de longo prazo do planeta e do gênero humano como um todo. Uma vez explorada, essa fonte poderosa e dinâmica de motivação individual e coletiva liberará um espírito tão profundo e salutar entre os povos da Terra que poder algum será capaz de resistir à sua força unificadora.

A verdade espiritual fundamental de nossa era é a unidade da humanidade. A aceitação universal desse princípio ­ com suas implicações em relação à justiça social e econômica, à participação universal em processos decisórios isentos de antagonismo, à paz e segurança coletiva, à igualdade dos sexos e à educação universal ­ possibilitará a reorganização e administração do mundo como um só país, o lar da humanidade.

Há mais de cem anos atrás, Bahá'u'lláh conclamou os governantes e povos da terra a tornarem sua visão mundialmente abrangente: "Que não se vanglorie quem ama seu próprio país, mas sim, quem ama o mundo inteiro." Este desafio ainda deve ser atendido.

Carta da Terra

Carta da Terra

A segiunte oferecendo sugestões para a proposta Carta da Terra, foi apresentada pela Comunidade Internacional Bahá'í ao Comitê Preparaório da Conferência das Naçaões Unidas sobre o Meio-Ambiente e Desenvolvimento (UNCED - Conferência Para O Planeta Terra).

Nova Iorque, EUA—4 March 1992

A Comunidade Internacional Bahá'í louva a proposta do Secretário Geral da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) de que uma Carta da Terra seja um dos seis principais elementos a serem enfocados durante a UNCED no Rio de Janeiro, Brasil, em junho de 1992. Realmente, a concordância quanto aos "princípios que devem governar as relações entre povos e nações, entre si e com a Terra" será essencial "para garantir nosso futuro comum, tanto em termos de Meio Ambiente, quanto de desenvolvimento". Portanto, nos sentimos honrados com esta oportunidade de compartilharmos nossos pontos de vista sobre os elementos a serem considerados para a inclusão nessa Carta que está sendo proposta.

Estamos convictos de que qualquer apelo para ação global em prol do Meio Ambiente e do Desenvolvimento precisa ter suas raízes embasadas em valores e princípios universalmente aceitos. De modo semelhante, a busca de soluções para os severos problemas mundiais de meio-ambiente e desenvolvimento precisa transcender as propostas técnico-utilitárias e enfocar as causas subjacentes à crise. Soluções genuínas, do ponto de vista Bahá'í, exigirão uma visão de futuro que seja aceita em nível mundial, baseada na unidade e na cooperação voluntária entre nações, raças, credos e classes da família humana. O comprometimento com um padrão moral mais elevado, a igualdade entre os sexos e o desenvolvimento da capacidade de consulta para o efetivo funcionamento de grupos em todos os níveis da sociedade, serão essenciais.

Existem muitas declarações sobre Meio Ambiente que a Carta da Terra da UNCED poderia usar como referência e como fonte de inspiração, incluindo-se a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972), a Declaração de Nairobi (1982), a Carta Mundial para a Natureza (1982) e documentos mais recentes como o Código Universal de Conduta Ambiental (Bangcoc, outubro de 1990).

É evidente que uma declaração da UNCED ou uma Carta da Terra beneficiar-se-ia através de uma ampla consulta com o maior número possível de organizações governamentais e não-governamentais. A Comunidade Internacional Bahá'í apraz-se, portanto em oferecer os seguintes elementos para uma possível inclusão nesta declaração de princípios.

Para reorientar os indivíduos e as sociedades em favor de um futuro sustentável, devemos reconhecer que: 

  • A Unidade é essencial, se povos diferentes forem trabalhar em prol de um futuro comum. A Carta da Terra poderá identificar os aspectos de unidade que constituem pré-requisitos para a de um desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista Bahá'í, "o bem-estar da humanidade, sua paz e segurança, inatingíveis, a menos e até que, a sua unidade seja firmemente estabelecida".
  • A irrestrita dos recursos naturais é meramente um sintoma de uma doença generalizada do espírito humano. Quaisquer soluções para a crise ambiental/desenvolvimento devem, por conseguinte, estar embasadas numa abordagem que incentive o equilíbrio e a harmonia espiritual dentro do indivíduo, entre indivíduos e com o meio ambiente como um todo. O desenvolvimento material deve servir não somente ao corpo, mas também à mente e ao espírito.
  • As mudanças exigidas na reorientação do mundo em direção a um futuro sustentável implicam em diferentes graus de sacrifício, integração social, ações despreendidas e uma unidade de propósito raramente alcançados na história humana. Estas qualidades obtiveram seu grau máximo de desenvolvimento através do poder da religião. Portanto, as comunidades religiosas mundiais têm um papel importantíssimo a desempenhar, inspirando estas qualidades em seus fiéis, liberando capacidades latentes do espírito humano e possibilitando aos indivíduos agirem em nome do planeta, de seus povos e das futuras gerações.
  • Somente um sistema federativo mundial, guiado por leis universalmente aceitas e obrigatórias, permitirá aos Estados-Nações administrarem cooperativamente um mundo cada vez mais interdependente e em rápida mutação, assegurando, consequentemente, paz e justiça econômica e social para todos os povos do mundo.
  • O desenvolvimento deve ser descentralizado de maneira a envolver as comunidades na formulação e implementação das decisões e programas que afetam suas vidas. Tal descentralização não precisa conflitar com um sistema e estratégia global, mas iria, na realidade, assegurar que os processos de desenvolvimento estivessem adaptados à rica diversidade cultural, geográfica e ecológica do planeta.
  • A consulta deve substituir o confronto e a dominação, de maneira a obter a cooperação da família das nações na concepção e implementação de medidas que preservar o equilíbrio ecológico da Terra.
  • Somente quando as mulheres forem bem-vindas à plena parceria, em todos os campos das atividades humanas, incluindo as áreas de desenvolvimento e meio ambiente, será criado o clima moral e psicológico no qual uma pacífica, harmoniosa e sustentável poderá emergir e florescer. 
  • A causa da universal merece um apoio incondicional, pois nenhuma pode atingir o sucesso, a menos que a seja dada a todos os seus cidadãos. Tal deve promover a tanto da unicidade da humanidade, quanto da existente entre o ser humano e a natureza. Ao criar um sentimento de cidadania mundial, a pode preparar a juventude do mundo para as mudanças orgânicas na estrutura da sociedade, implícitas no princípio de unicidade.

A Comunidade Internacional Bahá'í prontificase a contribuir para a e da Carta da Terra em consulta com outras entidades interessadas.

Mulheres e Homens: Sociedade Para Um Planeta Sadio

Mulheres e Homens: Sociedade Para Um Planeta Sadio

Declaração apresentada ao Congresso Mundial de Mulheres para um Planeta Sadio.

Miami, Estados Unidos—8 November 1991
"O bem-estar da humanidade, a sua paz e segurança, são inatingíveis, a menos e até que, sua unidade seja firmemente estabelecida." Estas palavras proféticas, enunciadas por Bahá’ulláh durante as últimas décadas do século dezenove foram totalmente ignoradas pelos líderes daquela época. Todavia, nesta última década do século vinte, a humanidade tornou-se cada vez mais consciente de sua interdependência e está convencida de que nenhum indivíduo, ou pode viver isolado do todo. A crise do meio ambiente/desenvolvimento fez com que muitas pessoas repensassem a sua visão do mundo e começassem a considerar a terra um sistema orgânico único, interdependente e unido. Consequentemente, a procura do equilíbrio entre as necessidades da sociedade e os limitados recursos da natureza está ocorrendo dentro do contexto mais amplo da procura pelo equilíbrio, paz e harmonia dentro da própria sociedade.

O estreito vínculo entre a unidade da humanidade e a igualdade dos sexos está explicado nas Escrituras Bahá’ís: "... à mulher deve ser dado o privilégio de uma educação igual a do homem e o pleno direito a todas as suas prerrogativas. Ou seja, deve haver diferenças na do homem e da mulher para que a mulher possa desenvolver capacidade e relevância iguais aos do homem na social e econômica. Assim o mundo alcançaria unidade e harmonia. Em épocas passadas, a humanidade tem sido imperfeita e ineficaz, pois estava incompleta. A guerra e sua têm devastado o mundo; a da mulher será um passo gigantesco em prol da e do fim da guerra, pois toda sua influência será usada contra a mesma. A mulher cria a criança e educa o jovem para a maturidade. Ela recusar-se-á a dar seus filhos para serem sacrificados’ no campo de batalha. Na verdade, ela será o maior fator no estabelecimento da paz universal e da arbitragem internacional. Seguramente, a mulher abolirá a guerra entre os seres humanos".

Até o presente momento, a maioria dos sistemas organizacionais da sociedade tem marginalizado as mulheres. De um modo geral, as estratégias modernas de desenvolvimento tendem a reforçar e, algumas vezes, a exacerbar as condições de desigualdade. Para combater a desigualdade entre os sexos, as Nações Unidas lançaram a memorável "Década das Nações Unidas para a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz (1975-1985)". Como resultado de pesquisas realizadas durante esta Década, as contribuições vitais das mulheres para a vida social e econômica de suas nações tornaram-se mais visíveis. As novas pesquisas também evidenciaram os fardos desnecessários carregados pelas mulheres e os obstáculos que impedem sua plena participação na sociedade. Mais significativo ainda, a Década aproximou as mulheres e forneceu-lhes oportunidades sem precedentes para trocar pontos de vista e experiências. As mulheres descobriram que o processo de compartilharem suas preocupações comuns pelo seu próprio futuro e pelo da família humana capacitaram-nas a transcenderem os limites de raça, classe social ou de nação. A Década ainda catalizou a das organizações tradicionais de mulheres e permitiu a criação de Organizações Não-Governamentais (ONG’s) locais, orientados para as necessidades específicas das mulheres. Estas ONG’s facilitaram o estabelecimento de uma extensa rede entre as mulheres, dando-lhes capacidade para expressar suas próprias necessidades, criar seus próprios programas e começar a influenciar em todos os níveis. Como resultado dos esforços realizados durante a Década, os planejadores da área de desenvolvimento começaram a abordar a falta de acesso das mulheres a recursos como educação, tecnologia e crédito. As agências das Nações Unidas, os governos nacionais e as agências de cooperação internacional estabeleceram departamentos para poder dedicar-se às necessidades e preocupações das mulheres.

Estas são conquistas significantes que devem ser grandemente reforçadas e expandidas. Apesar de algum progresso, as mulheres permanecem, todavia, à margem da formulação de diretrizes políticas e os sistemas que as têm tradicionalmente oprimido, permanecem em grande parte intactos. Estes sistemas aderem ao modelo de dominação que tem caracterizado a sociedade por milhares de anos: os homens têm dominado as mulheres; uma raça ou grupo étnico tem dominado outro; uma nação tem dominado outra nação. A despeito da relutância da humanidade em se modificar, "o equilíbrio já está mudando", segundo as Escrituras Bahá’ís, "a força está perdendo sua dominância, e a vivacidade mental, a intuição, e as qualidades espirituais de amor e serviço, nas quais a mulher é forte, estão ganhando ascendência. Portanto, a nova era será menos masculina e mais permeada pelos ideais femininos, ou, falando-se claramente, será uma era em que os elementos femininos e masculinos da civilização estarão mais equilibrados."

Embora a mulher deva desenvolver suas capacidades e caminhar para o desempenho de um papel mais ativo na solução dos problemas mundiais, o impacto de suas ações será limitado, se não houver total cooperação dos homens. Mulheres trabalhando juntas em harmonia e união já realizaram grandes conquistas nas esferas de influência que lhes estão abertas. Agora as mulheres devem juntar-se aos homens em igualdade de parceria. Quando os homens derem total apoio a este processo, acolhendo as mulheres em todos os campos do esforço humano, valorizando suas contribuições e incentivando sua participação, homens e mulheres juntos, ajudarão a criar o ambiente moral e psicológico no qual a paz poderá surgir e uma civilização ecologicamente sustentável poderá progredir e florescer.

As transformações exigidas para uma verdadeira igualdade sem dúvida nenhuma, difíceis tanto para os homens, quanto para as mulheres, pois ambos reavaliar o que é familiar, o que é rotina. A procura de um culpado deve ser abandonada, pois nenhum indivíduo pode ser acusado por ter sido moldado por forças históricas e sociológicas. A culpa deve ser trocada em favor da responsabilidade pelo crescimento. Em face dos profundos desafios que a humanidade está enfrentando, todos são responsáveis pelo reconhecimento de que o velho modelo não mais funciona e que todos responderão às futuras gerações pela administração da civilização humana e sua relação com a terra.

As mudanças são, no entanto, um processo evolucionário que requer paciência consigo mesmo e com os outros, uma educação amorosa e tempo. A transição será mais fácil quando os homens tomarem consciência de que eles serão incapazes de realizar seu pleno potencial enquanto as mulheres forem impedidas de atingir o delas. Na verdade, quando os homens promoverem de maneira ativa o princípio de igualdade, as mulheres mais lutar por seus direitos. Gradualmente, tanto os homens quanto as mulheres se de longas e nocivas atitudes e progressivamente, em suas vidas, os valores que os à verdadeira unidade.

Na da Comunidade Internacional Bahá’í, a mundial emergente será sustentada pelo comprometimento com uma nova série de valores, uma comum do equilíbrio entre direito e responsabilidades e a boa vontade de cada um em servir aos melhores interesses da humanidade como um todo. Para os bahá’ís, o comprometimento com a da mulher não é algo recente, assim como a igualdade entre os sexos é um vago ideal. E nossa que a da raça humana depende do estabelecimento da igualdade entre homens e mulheres. A humanidade, como explicam as Escrituras Bahá’ís, tendo atravessado os estágios de infância e de adolescência tumultuosa, está agora entrando na idade adulta, estágio que testemunhará "a reconstrução e a da totalidade do mundo civilizado - um mundo organicamente unido em todos os aspectos essenciais de sua vida."

Legislação Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

Legislação Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

A seguinte declaração foi apresentada pela Comunidade Internacional Bahá'í ao Comitê Prepatório da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED - Conferência para o Planeta Terra)

Genebra, Suiça—13 August 1991

Há pouco mais de cem anos, numa série de cartas endereçadas aos líderes mundiais daquela época, Bahá'u'lláh falou que a humanidade iniciava um período de sua história que estaria vinculado a uma radical da vida no planeta. Desafios nunca antes encontrados, dizia Ele, os recursos até das nações mais avançadas. Estes desafios somente poderiam ser combatidos com um sistema mundial federativo cujoseria um parlamento mundial representativo, com poderes para criar um código universalmente aceito e uma internacionalmente aplicável. "A Terra é um só país, e os seres humanos seus afirmou Bahá'u'lláh.

A medida que a magnitude, a complexidade e a urgência dos problemas ecológicos tornaram-se mais conhecidos do público, a lógica destas soluções ficou cada dia mais aparente. O dispositivo legislativo internacional disponível e seus processos comprovadamente inadequados, principalmente por serem baseados em leis que governam os Estados-Nações. Para a Comunidade Internacional Bahá'í parece evidente que, a menos que medidas criativas e inovadoras possam ser tomadas para reestruturar a ordem internacional, a ambiental, por sí só, com suas a longo prazo para o desenvolvimento sócio-econômico conduzirá, inexoravelmente, a um desastre de dimensões estarrecedoras.

O atual processo de de uma ambiental internacional, que aborda somente um problema de cada vez, é fragmentado e assistemático. Convenções, tratados, protocolos, foram adotados sobre diversas questões como a da camada de ozônio e o controle do tráfico internacional de produtos tóxicos. Outras convenções sendo negociadas sobre as mudanças climáticas e sobre as mudanças biológicas. Algumas outras foram sugeridas, tais como fontes terrestres de marinha. Não existe nenhum corpo responsável pela de uma ambiental internacional. As nações do mundo tampouco concordam sobre os princípios nos quais esta ambiental poderia se basear. Além disso, os países signatários dos diversos instrumentos legislativos raramente os mesmos. Isto torna, portanto, quase impossível harmonizar ou combinar acordos.

O processo legislativo internacional é muito conhecido por ser lento, embaraçoso e de alto custo. Uma vez identificado o problema, uma de especialistas é convocada para preparar um ante-projeto. A preliminar é negociada pelos governos interessados e assinada em um encontro de plenipotenciários. Após um período frequentemente longo de ratificações e adesões, a entra em vigor, mas somente para os Estados signatários. Um secretariado é geralmente criado para facilitar o monitoramento da da Caso a tenha que ser modificada, como no caso do protocolo de Montreal, onde o aumento da da camada de ozônio ultrapassou as provisões do protocolo, a pode ser demorada e lenta quanto o processo de Muitos países que possuem um número limitado de diplomatas e de especialistas conseguem lidar com estes procedimentos dispendiosos de tempo e dinheiro, uma vez que o número de negociações está aumentando para atender os problemas ambientais globais cada vez mais urgentes.

O atual processo ad hoc sobre ambiental está fadado a tornar-se cada vez mais incontrolável. Inúmeras propostas foram feitas no sentido de fornecer mecanismos globais de e de apoio para um de desenvolvimento sustentável. Alguns especialistas aconselham reforçar o atual sistema das Nações Unidas, mediante a dos mandatos de agências tais como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a do Conselho Econômico e Social (ECOSOC) ou delegando ao Conselho Curador a tarefa de administrar certos recursos do planeta. Outros, por sua vez, sugerem a de novos tais como um Conselho de Segurança Ambiental, uma Corte Internacional de Justiça para o Meio Ambiente, ou de um internacional encarregado de preparar, adotar e revisar uma internacional,sobre questões que necessitam de uma global.

Não importa motivados ou úteis sejam estas propostas, está claro para a Comunidade Internacional Bahá'í que o estabelecimento de um de desenvolvimento sustentável é uma tarefa complexa com múltiplas ramificações. É evidente que será necessário um novo nível de comprometimento para solucionar importantes problemas que necessariamente associados ao meio ambiente. Estes incluem o problema da a exagerada disparidade de riquezas entre e dentro de cada o racismo, a falta de acesso à o nacionalismo irrestrito e a ausência de igualdade entre homens e mulheres. Ao invés de adotar uma abordagem caso a caso para atender às necessidades dos Estados-Nações, parece claramente preferível adotar um acordo geral sob o qual cada código internacional específico poderia ser promulgado.

Soluções a longo prazo uma nova e ampla de uma sociedade global, amparada por novos valores. Na da Comunidade Internacional Bahá'í, aceitar a unidade da humanidade representa o primeiro pré-requisito fundamental para a e do mundo como um só país, o lar do gênero humano. O reconhecimento deste princípio implica no abandono de lealdades legítimas, na da diversidade cultural ou na da autonomia nacional. Requer uma lealdade maior, uma mais elevada do que aquela que tem até agora inspirado os esforços da humanidade. Esta nova ordem claramente requer que os impulsos e os interesses nacionais sejam subordinados às exigências imperativas de um mundo unificado. Esta ordem é inconsistente somente com qualquer tentativa para impor uniformidade, mas também com qualquer tendência de uma excessiva. Seu objetivo é bem definido através do conceito de "unidade na diversidade".

As Escrituras Bahá'ís vislumbram o sistema federativo mundial proposto por Bahá'u'lláh como um sistema no qual "todas as nações do mundo terão voluntariamente renunciado ao direito de fazer a guerra, a certos direitos de impor impostos e de manterem armamentos, exceto com o objetivo de manter a ordem interna dentro do seu próprio território. Tal comunidade de nações incluirá "uma legislatura mundial cujos membros, agindo em nome da humanidade, em última instância, a totalidade dos recursos de cada e as leis necessárias para regulamentar a vida, satisfazer as necessidades e ajustar as relações entre todas as raças e entre todos os povos. Um executivo mundial, apoiado por uma Força Internacional, implementará as decisões e aplicará as leis criadas por este legislativo mundial e protegerá a unidade orgânica desta comunidade mundial. Um tribunal mundial adjudicará e expedirá o veredito final e obrigatório sobre todas e quaisquer disputas que possam surgir entre os vários elementos que compõem este sistema universal". Sob este sistema, um código único de direito internacional ­produto do julgamento ponderado dos representantes da mundial ­terá como a imediata e coercitiva do conjunto de forças das unidades federadas." Ao mesmo tempo, "a autonomia dos estados membros e a liberdade e iniciativa de cada membro individual será definitiva e completamente garantida".

A Comunidade Internacional Bahá'í, portanto, conclama o Comitê Preparatório a levar em abordagens corajosas e inovadoras para a de um mecanismo e um processo legislativo internacional. Nenhuma mudança verdadeira será possível sem uma visão. A proposta da "Carta da Terra" pode contribuir muito como instrumento na de uma unificadora para o futuro, corajosamente afirmando os valores nos quais ela deve se basear. Durante seu trabalho na do texto, o Comitê Preparatório poderá referir-se à Promessa da Paz Mundial, uma dirigida aos Povos do Mundo e publicada em apoio ao Ano Internacional da Paz pela Casa Universal de Justiça.

Os Bahá'ís do mundo inteiro consideram a UNCED um processo que irá reforçar sobremaneira o otimismo que eles sentem acerca do futuro da humanidade. Acreditamos que, encorajados pelo reconhecimento universal dos perigos enfrentados no momento pelo planeta, os governos do mundo podem ser incentivados a agirem corajosamente em prol da humanidade como um todo. O resultado bem pode vir a ser, somente uma resposta eficaz aos problemas ecológicos e de desenvolvimento atualmente existentes, mas também um enorme passo em à de um sistema federativo capaz de enfrentar a ampla variedade de desafios criados pelo processo de da raça humana.

Carta da Terra

Carta da Terra

A seguinte proposta Carta da Terra foi apresentada pela Comunidade Internacional Bahá’í ao Comitê Preparatório da Conferência das Unidas sobre o Meio-Ambiente e Desenvolvimento (UNCED - Conferência Para 0 Planeta Terra.)

Genebra, Suiça—5 April 1991

A Comunidade Internacional Bahá’í louva a proposta do Secretário Geral da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) de que uma Carta Da Terra seja um dos seis principais elementos a serem enfocados durante a UNCED no Rio de Janeiro, Brasil, em junho de 1992. Realmente, a concordância quanto aos "princípios que devem governar as relações entre povos e nações, entre si e com a Terra "será essencial "para garantir nosso futuro comum, tanto em termos de Meio Ambiente, quanto de desenvolvimento". Portanto, nos sentimos honrados com esta oportunidade de compartilharmos nossos pontos de vista sobre os elementos a serem considerados para a inclusão nessa Carta que está sendo proposta. Estamos convictos de que qualquer apelo para ação global em prol do Meio Ambiente e do Desenvolvimento precisa ter suas raízes embasadas em valores e princípios universalmente aceitos. De modo semelhante, a busca de soluções para os severos problemas mundiais de meio-ambiente e desenvolvimento precisa transcender as propostas técnico-utilitárias e enfocar as causas subjacentes à crise. Soluções genuínas, do ponto de vista Bahá’í, exigirão uma visão de futuro que seja aceita em nível mundial, baseada na unidade e na cooperação voluntária entre nações, raças, credos e classes da família humana. O comprometimento com um padrão moral mais elevado, a igualdade entre os sexos e o desenvolvimento da capacidade de consulta para o efetivo funcionamento de grupos em todos os níveis da sociedade, serão essenciais.

Existem muitas declarações sobre Meio Ambiente que a Carta da Terra da UNCED poderia usar como referência e como fonte de inspiração, incluindo-se a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972), a Declaração de Nairobi (1982), a Carta Mundial para a Natureza (1982) e documentos mais recentes como o Código Universal de Conduta Ambiental (Bangcoc, outubro de 1990).

É evidente que uma declaração da UNCED ou uma Carta da Terra beneficiar-se-ia através de uma ampla consulta com o maior número possível de organizações governamentais e não-governamentais. A Comunidade Internacional Bahá’í apraz-se, portanto em oferecer os seguintes elementos para uma possível inclusão nesta declaração de princípios.

Para reorientar os indivíduos e as sociedades em favor de um futuro sustentável, devemos reconhecer que:

  • A Unidade é essencial, se Povos diferentes forem trabalhar em prol de um futuro comum. A Cartada Terra poderá identificar os aspectos de unidade que constituem pré-requisitos para a obtenção de um desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista Bahá’í, "o bem-estar da humanidade, sua paz e segurança, são inatingíveis, a menos e até que, a sua unidade seja firmemente estabelecida".
  • A exploração irrestrita dos recursos naturais é meramente um sintoma de uma doença generalizada do espírito humano. Quaisquer soluções para a crise ambiental/desenvolvimento devem, por conseguinte, estar embasadas numa abordagem que incentive o equilíbrio e a harmonia espiritual dentro do indivíduo, entre indivíduos e com o meio ambiente como um todo. O desenvolvimento material deve servir não somente ao corpo, mas também à mente e ao espírito.
  • As mudanças exigidas na reorientação do mundo em direção a um futuro sustentável implicam em diferentes graus de sacrifício, integração social, ações despreendidas e uma unidade de propósito raramente alcançados na história humana. Estas qualidades obtiveram seu grau máximo de desenvolvimento através do poder da religião. Portanto, as comunidades religiosas mundiais têm um papel importantíssimo a desempenhar, inspirando estas qualidades em seus fiéis, liberando capacidades latentes do espírito humano e possibilitando aos indivíduos agirem em nome do planeta, de seus povos e das futuras gerações.
  • Somente um sistema federativo mundial, guiado por leis universalmente aceitas e obrigatórias, permitirá aos Estados-Nações administrarem cooperativamente um mundo cada vez mais interdependente e em rápida mutação, assegurando, conseqüentemente, paz e justiça econômica e social para todos os povos do mundo.
  • desenvolvimento deve ser descentralizado de maneira a envolver as comunidades na formulação e implementação das decisões e programas que afetam suas vidas. Tal descentralização não precisa conflitar com um sistema e estratégia global, mas iria, na realidade, assegurar que os processos de desenvolvimento estivessem adaptados à rica diversidade cultural, geográfica e ecológica do planeta.
  • A consulta deve substituir o confronto e a dominação, de maneira a obter a cooperação da família das nações na concepção e implementação de medidas que irão preservar o equilíbrio ecológico da Terra.
  • Somente quando as mulheres forem bemvindas à plena parceria, em todos os campos das atividades humanas, incluindo as áreas de desenvolvimento e meio ambiente, será criado o clima moral e psicológico no qual uma civilização pacífica, harmoniosa e sustentável poderá emergir e florescer. A causa da educação universal merece um apoio incondicional, pois nenhuma nação pode atingir o sucesso, a menos que a educação seja dada a todos os seus cidadãos. Tal educação deve promover a conscientização tanto da unicidade da humanidade, quanto da integração existente entre o ser humano e a natureza. Ao criar um sentimento de cidadania mundial, a educação pode preparar a juventude do mundo para as mudanças orgânicas na estrutura da sociedade, implícitas no princípio de unicidade.

A Comunidade Internacional Bahá’í prontifica-se a contribuir para a elaboração e promoção da Carta da Terra em consulta com outras entidades interessadas.

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